Um grafite de 600 metros quadrados da escritora Conceição Evaristo está emoldurando o coração da Pequena África, na zona portuária do Rio de Janeiro. A homenagem faz parte do projeto Negro Muro, que, desde 2018, atua no mapeamento da memória negra por meio da arte urbana e é desenvolvido pelo muralista Cazé e pelo produtor e pesquisador Pedro Rajão.
A iniciativa é responsável por desenhos de personalidades e intelectuais negros e negras por ruas e galerias. Entre eles, estão Elza Soares, Paulinho da Viola, Zezé Motta, Alcione e Leci Brandão.
Para produzir o grafite, foram utilizados nada menos que 200 litros de tinta. O mural está instalado na lateral de um prédio que se destaca na paisagem do Largo da Prainha, ponto de boemia e memória negra na região onde ficava o Cais do Valongo, porto que mais recebeu africanos escravizados no mundo.
O trabalho é vizinho de Conceição Evaristo, que mantém o Centro Cultural Casa Escrevivência e mora no Morro da Conceição, que fica na mesma região.
A escritora falou sobre a emoção em receber a homenagem: “eu nunca imaginava, né, que seria desse tamanho. Para mim, seria o meu rosto. Sem sombra de dúvida, também alimenta o meu narcisismo, por que não?”.
Conceição também destacou que a imagem não representa somente ela, mas toda a sua ancestralidade: “eu não estou naquela foto sozinha, certeza absoluta. Quem me sustenta e quem me trouxe aqui, quem me dignifica para além da arte, são os nossos antepassados, são os nossos ancestrais, que estão aqui”.
Além de escritora, Conceição Evaristo é professora e participante ativa de movimentos de valorização da cultura negra. Cunhou o termo escrevivência, a escrita que nasce do cotidiano e de experiências pessoais. É também a primeira mulher negra a ter uma cadeira na Academia Mineira de Letras.