sexta-feira, fevereiro 28, 2025
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Do improviso à sede própria: com apoio do Estado, Flor da Serra do Sul terá nova APAE


O espaço que deveria ser a garagem da Câmara Municipal de Flor da Serra do Sul é um dos locais onde hoje funciona, de forma improvisada, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) do município, que está prestes a se mudar para um imóvel adaptado para as necessidades de seus 42 alunos. O novo espaço é uma das 14 Escolas de Educação Especial que estão sendo construídas em todo o Paraná, em uma iniciativa inédita do Governo do Estado.

O investimento na nova estrutura é de R$ 1,8 milhão, com repasse direto da Secretaria de Estado das Cidades ao município, que foi responsável pela execução do projeto e das obras. “É um sonho de toda a nossa comunidade e das pessoas que trabalharam em prol da APAE desde o início da escola no nosso município, que agora sai do papel graças a essa parceria com o Governo do Estado”, afirma o prefeito de Flor da Serra do Sul, Valmor Felipe Junior.

Fundada em 2007, a APAE Flor da Vida contou com a dedicação dos seus funcionários e da comunidade para conseguir atender os alunos, que atualmente têm de 2 a 76 anos de idade e diferentes graus de deficiência intelectual, física ou motora. Nos primeiros anos, eles se deslocavam para a cidade vizinha de Marmeleiro ou até mesmo a Francisco Beltrão, a cerca de 45 quilômetros de distância, para os atendimentos.

Depois, a entidade passou a funcionar no porão de uma casa emprestada na cidade catarinense de Palma Sola, que faz divisa com Flor da Serra do Sul. Agora, ela se divide entre dois lugares: a garagem da Câmara e um outro imóvel a duas quadras de distância, que pela particularidade das duas cidades, cujas divisas são as próprias ruas, também fica em Palma Sola.

A distância e o improviso das atuais dependências acabam gerando dificuldades para funcionários e alunos. Enquanto as aulas acontecem na Câmara, que não tem salas de aula ou mesmo sanitários adaptados, os atendimentos especializados e mesmo as refeições são feitos no outro imóvel. E os alunos com deficiência, muitos deles cadeirantes, precisam ser deslocados pela rua.

“É preciso andar quase duas quadras para fazer o lanche e os atendimentos, o que é uma grande dificuldade no inverno ou em dias de frio ou chuva, principalmente com os cadeirantes”, conta a diretora da Apae, Elisabete Caron.

“É um sofrimento para os funcionários que prestam esse trabalho, e também para os estudantes, porque é um local que não tem espaço nem equipamentos adequados, é muito complicado”, destaca o presidente da entidade, Sinval Thives Pimentel. “Essa mudança vai ser como o céu para as nossas, que estarão em um espaço totalmente adaptado para as suas necessidades, onde os profissionais também vão ter um lugar adequado para trabalhar”.



Nova sede terá duas alas, uma voltada para a parte pedagógica, com as salas de aula, da diretoria e dos professores, e outra voltada para os atendimentos especializados. Foto: Geraldo Bubniak/AEN

ESPAÇO ADEQUADO – Essas dificuldades estão próximas do fim com a construção da nova escola, localizada em um terreno de 5 mil metros quadrados adquirido pela própria entidade. Com 95% de execução, a unidade vai contar com seis salas de aula, cozinha, refeitório e salas destinadas para a secretaria, direção, sala de professores, biblioteca e para os atendimentos de fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e psicologia.

No local, também serão ofertadas atividades de equoterapia para os estudantes. “Adquirimos uma área grande já pensando na expansão futura. Vai ter um espaço no fundo do terreno para a equoterapia e planejamos, futuramente, a construção de quadra de esporte e piscina. Com apoio do município, Governo do Estado e governo federal, queremos ampliar a estrutura para o bem-estar das nossas crianças. São eles os atores que mais merecem toda essa atenção e carinho”, ressalta Pimentel.

“Teremos duas alas, uma voltada para a parte pedagógica, com as salas de aula, da diretoria e dos professores, e outra voltada para os atendimentos especializados”, destaca Elisabete. “Vamos ter espaço para fazer muita coisa, é um sonho que está sendo realizado para trazer qualidade de vida aos nossos alunos”.

Para as mães e pais dos alunos, o novo espaço representa um cuidado ainda maior do que eles recebem no dia a dia. “Eu fico muito contente pela minha filha, pelos outros alunos e pelos funcionários, porque vai ter um lugar mais acertadinho para eles”, afirma Leonilda Zatiki, de 58 anos.

Ela é mãe da Cleide Lopes, de 39 anos, que teve paralisia cerebral após complicações no parto. “Ela tem uma manchinha preta no lado esquerdo do cérebro e desde pequeninha nunca caminhou, sentou ou engatinhou”, conta ela. “Eu sou sozinha para criar ela, sou viúva e somos só nós duas em casa. Então eu quase não tenho palavras para falar da escola, que é tudo para ela e tudo e tudo para mim. Aqui eles cuidam e ajudam muito. O colégio é uma família para minha filha e para todos os alunos também”.

Ivete Bebre, de 24 anos, leva a filha Sofia, de 6 anos, para ser atendida no local desde os 4 meses de vida da criança. “A Sofia nasceu com 28 semanas, era uma prematura extrema, e teve paralisia cerebral no parto. Ela sempre recebeu todos os atendimentos aqui e, o que não tinha, eles corriam atrás. Apesar de não estar em um local apropriado para as necessidades, a APAE sempre se preocupou para que as crianças fossem bem atendidas. Tenho gratidão por todos os profissionais”, diz.

“A escola é essencial para as crianças com deficiência. Neste ano tive que fazer a escolha se colocaria ela em uma escola regular do município ou na APAE. Ela é uma criança que usa fralda, tem dificuldade para caminhar e não fala. Eu optei pela APAE porque o cuidado que eles têm com ela é muito grande, e eu sei que vai ser o melhor para a vida dela”, conta Ivete. “Agora com a escola nova, várias coisas que precisavam buscar fora vai ter ali. É um lugar próprio para eles, um espaço bom, bem melhor”.



Atualmente a APAE funciona em um espaço improvisado em Flor da Serra do Sul. Foto: Geraldo Bubniak/AEN

OUTRAS OBRAS – A primeira das 14 Escolas de Educação Especial que estão sendo construídas com apoio do Governo do Estado já inaugurada foi a de Nova Laranjeiras, que atende cerca de 70 alunos. As demais serão em Altamira do Paraná, Ariranha do Ivaí, Douradina, Guamiranga, Nossa Senhora das Graças, Piên, Prado Ferreira, Rio Branco do Ivaí, Capitão Leônidas Marques, Nova Londrina, Santo Inácio e Tunas do Paraná.

Além do recurso investido na construção das unidades, o Governo do Estado repassa anualmente R$ 480 milhões para as escolas de Educação Especial nos 399 municípios. Até 2027 o investimento será de R$ 1,9 bilhão.

A medida beneficia mais de 40 mil estudantes com deficiências de todas as idades e familiares ligados a estas unidades. Os recursos são utilizados para garantir a manutenção das instituições e também a equiparação salarial dos profissionais que atuam nestas instituições em relação aos demais servidores da educação.

ATUAÇÃO – Criadas em 1954, as primeiras APAES surgiram para prestar assistência às pessoas com Deficiência Intelectual ou Deficiência Múltiplas, buscando soluções para que os filhos tivessem condições de inserção na sociedade. Atualmente, o Paraná conta com 350 associações que atendem cerca de 45 mil alunos nas áreas de educação, saúde e representatividade na luta por seus direitos de inclusão social.

Há décadas, as APAES lutam de forma independente pela inclusão social das pessoas com deficiência intelectual ou múltiplas deficiências. Em todo o Brasil, as escolas que atendem este público costumam ser instaladas em locais construídos com outras finalidades, muitas vezes com recursos dos próprios familiares e apoio de organizações filantrópicas.



Via AEN Pr

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