O Nickelback é uma daquelas bandas que você provavelmente ama ou odeia, dificilmente se posicionando no meio do caminho.
De um jeito ou de outro, o fato é que o grupo liderado por Chad Kroeger está sempre na boca do povo desde que começou a ganhar notoriedade. Da mesma forma, é praticamente impossível não cantar junto quando se ouve os primeiros versos de hits como “Photograph” e “How You Remind Me”, verdadeiros túneis do tempo para uma época mais simples para muitos de nós.
Com seus riffs potentes e seu jeitão irreverente, a banda segue firme e forte nos tempos atuais e lançou o ótimo disco Get Rollin’ em 2022, apostando em uma nova versão de sua sonoridade tradicional e mostrando que ainda tem a receita do sucesso em mãos, gerando hits como “San Quentin” e “Those Days”.
Em um papo exclusivo com o TMDQA!, Chad Kroeger abriu o jogo sobre a “preguiça” que levou à demora para o lançamento de um novo álbum, falou sobre as piadas envolvendo sua banda e muito mais.
Confira a seguir!
TMDQA! Entrevista Chad Kroeger (Nickelback)
TMDQA!: Oi, Chad! Que prazer estar falando com você. Curiosamente, estou tirando um tempinho das minhas férias pra fazer isso… e estou em Vancouver, perto de você, né?
Chad Kroeger: Olá! Nossa, sim. Eu estou aqui pertinho, em Abbotsford, provavelmente olhando pro mesmo céu merda todo nublado que você. [risos] Por que diabos você saiu do Brasil pra ver isso? [risos]
TMDQA!: [risos] Estou visitando um amigo de infância que mora aqui agora! Mas enfim, muito obrigado pelo tempo para falar conosco. Sou um fã de longa data do Nickelback e, pra começar, queria te parabenizar pelo novo disco. Acho que é um ótimo álbum e que tem toda a cara do Nickelback, mas também soa como algo um pouco diferente. Depois de tantos anos na banda, como vocês conseguem ter esse som tão característico sem se repetir na hora de escrever novas múscas?
Chad: Olha, a partir do momento que eu canto em alguma coisa, definitivamente tem uma pegada Nickelback. É bem difícil se distanciar disso, mas sabe, simplesmente no que diz respeito aos riffs e às coisas sobre as quais estamos cantando, nós tentamos manter isso sempre novo. Tipo, acho que temos umas músicas de festa ali, e isso não é novo pra gente; também temos uma música de nostalgia, que não é novo. Mas foi feito de um jeito diferente.
Acho que “Those Days” é um bom exemplo, porque ela pode ser bastante comparada a “Photograph” só por ter essa vibe nostálgica. “Photograph” é sobre três dos quatro membros da banda crescendo juntos em Hanna, no estado de Alberta [no Canadá]. Sabe, é bem, bem autobiográfica. Mas “Those Days” é simplesmente sobre qualquer um que tenha crescido em uma era bem específica. Se você cresceu nos anos 80, ou até no começo dos anos 90, você provavelmente sabe do que estamos falando. E tem essa coisa que meio que te transporta pra lá.
TMDQA!: Entendo demais. Acho que essa vibe anos 80 também aparece em alguns outros momentos do disco; tem até uma pegada meio Hair Metal ali em “Vegas Bomb” né. Por que vocês seguiram nessa direção pra esse álbum?
Chad: Você diz sobre essa música especificamente?
TMDQA!: Mais no sentido geral de ter algumas direções novas. Fico me perguntando se, de repente, ter alguns bons anos entre um disco e outro talvez tenha influenciado esse álbum de alguma forma.
Chad: Eu acho que a quantidade de anos entre os discos tem mais a ver com preguiça. [risos]
TMDQA!: [risos] Sinceridade em primeiro lugar!
Chad: Mas falando sério, não é como se só estivéssemos sentados ali pensando tipo, “Beleza, caras vamos fazer assim e assado”. Foram dois anos de lockdown e nós só pensamos que finalmente era hora de fazer algo. Não sei dizer se a quantidade de tempo entre os discos nos influenciou; acho que foi só algo que aconteceu de forma orgânica e não houve nenhuma intenção ou direção em relação a ser algo que precisávamos fazer.
Em questão de estilo das músicas, acho que essas coisas também meio que só foram acontecendo, só foram se desenvolvendo pra virar isso. Acho que o único motivo para essas músicas soarem novas é porque estamos lançando-as agora. Não há nada tipo… bom, digo, há elementos de produção e alguns sons que nós nunca usamos antes, com certeza, mas não foi um esforço consciente pra isso, sabe? De jeito nenhum.
TMDQA!: Talvez um desses aspectos novos venha justamente nas letras, né. Eu li uma entrevista recente onde você dizia que lançar uma música como “Figured You Out” hoje em dia faria vocês serem cancelados, mas agora vocês têm uma pegada parecida com “Skinny Little Missy” só que, dessa vez, é uma letra quase empoderadora, ouso dizer!
Chad: [risos] Sabe, esse é o problema de entrevistas e manchetes. Muitas vezes as pessoas não colocam as risadas depois de algo que estão tentando usar como clickbait, então eles só pegam a coisa mais controversa que dizemos e colocam no título. Você certamente sabe, não estou te falando nada novo; isso acontece desde que os cliques começaram a existir.
Mas, assim, a gente estava brincando sobre isso. Foi só isso. É sempre bem difícil falar sério quando fazemos entrevistas com a banda toda, é só besteira o tempo todo. Mas, sei lá, será que não vou ser cancelado por dizer que alguém é magrela [“skinny”]?
TMDQA!: Acho que não…
Chad: Já vi coisas mais estranhas! Vamos observar.
TMDQA!: É curioso pra mim que vocês realmente não se levam tão a sério assim e, ao mesmo tempo, tem todo esse estigma de ser uma banda tão odiada. Tipo, sei lá, você está sempre de boa e vocês enquanto banda não parecem preocupados com uma zoeira aqui e ali. Mas a reputação fica…
Chad: É. Mas, sabe, quem liga? Todo mundo leva as coisas a sério demais hoje em dia. Eu fico vendo uns trechos de shows de comédia e dá pra ver que os comediantes estão de saco cheio. Eles não podem fazer uma piada sobre absolutamente nada sem alguém se ofender sobre aquilo. Eu vi um comediante falando recentemente: “Você nunca diria para um jornalista se há algo sobre o que ele não falaria”. Então, por que eles não podem escrever as piadas? Sabe, escrever uma história curta sobre algo que vai causar risadas no final, espera-se.
Acho que se alguém está sendo malvado, espalhando ódio ou tentando machucar, é uma coisa. Mas os comediantes estão só tentando contar piadas e as pessoas estão constantemente se ofendendo. Se eu fosse ofendido com essa facilidade, eu não iria para um show de comédia; eu ficaria em casa, porque mais cedo ou mais tarde vão dizer algo que vai te ofender. E aí essas pessoas se tornam “guerreiros de teclado”. Mas eu não estou dizendo nada novo, só reiterando algo.
TMDQA!: Especificamente no caso de vocês, acho que deve ser engraçado ver as pessoas levando tudo tão a sério.
Chad: As pessoas podem só relaxar!
TMDQA!: Voltando à música, falamos um pouco sobre “Those Days” e sinto que essa é uma música que segue uma espécie de “fórmula”, e não digo isso de um jeito pejorativo, que vocês têm para baladas. Ao mesmo tempo, parece que também há uma receita de sucesso para as mais pesadas. É uma decisão consciente de sentar e escrever uma balada, uma mais pesada, essas coisas assim?
Chad: Só acontece. Às vezes, claro, nos encontramos com sete ou oito músicas prontas para um disco e sentimos que há algo faltando, e aí sim vamos intencionalmente sentar para escrever algo, só para ter certeza que o disco estará bem balanceado. Mas eu não acho que isso seja necessariamente aderir a uma fórmula; acho que é só ter certeza de que o disco tenha variedade, porque eu sempre digo que você não quer ter um disco que tem o mesmo tipo de música por ele todo. Tipo, você estaria só martelando a cabeça de alguém por 45 minutos, ou só 45 minutos diretos de baladinhas que vão fazer a pessoa dormir.
Acho que quando é bem balanceado, tem algo para todo mundo curtir. E eu acho que é um processo muito parecido com os shows. Eu gosto que os shows tenham altos e baixos; eu gosto desses momentos grandiosos, poderosos, de clímax. E eu gosto quando tem uma queda e você tem, sabe, todo mundo cantando junto, você tem uma resposta emocional da plateia, e aí você levanta a galera de novo. Acho que é como qualquer bom filme. É o que precisamos como seres humanos, todos nós precisamos desses momentos diferentes nas nossas vidas.
TMDQA!: Falando em shows, tem bastante tempo que vocês vieram ao Brasil. Você lembra de alguma memória preferida do seu tempo aqui?
Chad: Duas memórias preferidas, sem dúvidas: a primeira e a segunda vez que tocamos no Rock in Rio. Simplesmente inacreditável. Eu não fico nervoso quando subo no palco, mas quando você sobe no palco para tanta gente assim, você vai ter borboletas no estômago, não importa quem você seja. Você vai sentir algo. São tantos seres humanos, e apenas quatro de vocês.
E vocês quatro querem ter todas aquelas pessoas do seu lado, você quer que eles cantem junto o mais rápido possível e que eles estejam se divertindo e cantando junto. Esse é o seu trabalho, sabe? Subir ali e entreter pra caramba essas pessoas, ter certeza de que elas estão se divertindo como nunca.
TMDQA!: Isso parece incrível mesmo. Duas perguntas rápidas para fecharmos a entrevista: primeiro, queria saber se você teve um disco favorito de 2022.
Chad: Ah, eu sou muito ruim nisso.
TMDQA!: Teve um ótimo chamado Get Rollin’ da banda Nickelback, não sei se você ouviu…
Chad: Eu não posso escolher meu próprio disco! [risos] Eu realmente não sei. Eu não ouvi muita coisa esse ano.
TMDQA!: Qual foi o disco que você mais ouviu esse ano?
Chad: Obviamente o meu porque era o que estávamos fazendo! [risos] Não vale.
TMDQA!: Justo. [risos] Vou deixar passar dessa vez. Por fim, e aproveitando que já vi que você entende as brincadeiras, a gente sempre ouve falar que o Nickelback é a banda mais americana do Canadá por conta da sonoridade de vocês. O que você acha disso?
Chad: É, a gente definitivamente não soa canadense. Não temos nem um pouco desse som canadense. Acho que quando você ouve uma banda tipo o The Tragically Hip você pensa tipo, “Ok, isso definitivamente é canadense”. Acho que eu diria que o The Guess Who não é uma banda tão canadense assim; provavelmente o Bryan Adams também se encaixa nisso. Mas é, eu não sei mesmo o que é.
Acho que a gente sempre foi confundido com uma banda de Souther Rock. Quando o Silver Side Up saiu, tinha muita coisa que era basicamente Blues com afinação mais baixa. Era um Blues pesado, com riffs fortes, e isso definitivamente fez com que as pessoas achassem que nós éramos americanos. Mas, sendo sincero, acho que isso ajudou nossa carreira mais do que qualquer outra coisa.
Tinha muita estação de rádio no Canadá que não queria nem saber da gente, mas aí nós começamos a tocar nos EUA e aí me chamavam e eu chegava na estação já pensando, “Ah, agora vocês querem a gente. Vocês querem tocar nossas músicas porque nós fomos e provamos nosso valor nos EUA”. É tipo, “Qual é, caras? Cadê o amor?”. Eu não sei, eu não ligo se alguém achar que eu sou de outro lugar. Realmente não ligo, acho que não é sobre isso.
Eu tenho muito, muito orgulho de ser canadense. Eu amo esse país, eu amo os canadenses, mas eu simplesmente amo pessoas. Eu amo pessoas boas. Sabe, é até um problema! [risos] Às vezes eu vou para um bar ou um pub e estou, sei lá, na Irlanda, ou em Perth, na Austrália, ou em Austin, no Texas, e se eu vou com minha namorada e amigos e estamos ali sentados e outra mesa começa a falar conosco, minha namorada já vira e fala, “Ai, lá vai o Chad”. [risos] Porque eu simplesmente saio e começo a falar com as pessoas, porque eu amo as pessoas!
Eu sento com eles e começo a comprar bebida pra todo mundo, e aí simplesmente passamos a noite toda nos divertindo. Eu de verdade já ouvi muito da minha namorada. [risos] Tipo, “Por favor não comece a puxar papo com outra mesa cheia de gente, eu sei que você quer fazer amizade”. É tipo, “Hoje não, por favor. Hoje não”. [risos]
TMDQA!: [risos] Bom demais! Chad, muito obrigado pelo seu tempo. Até a próxima!
Chad: Obrigado você! Até mais.
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