O 8 de janeiro de 2023 entrou para história do país: um dia em que ataques aos Três Poderes da República tentaram abalar a democracia. Prédios foram invadidos e depredados, em cenas de ódio e comemoração de eleitores que não aceitavam o resultado das urnas.

Um mês depois dessas cenas, o Caminhos da Reportagem ouviu histórias de quem presenciou aquele dia. O programa faz uma análise dos fatos que culminaram numa tentativa frustrada de abalar a democracia do país e do que pôde ser aprendido após essas ameaças.

Renato Alves, do Jornal O Tempo, foi um dos 16 profissionais de imprensa que sofreram agressões no dia. Ao fugir dos agressores e pedir ajuda, ele viu de perto a conivência da Polícia Militar do Distrito Federal (DF). Naquela noite, Ricardo Cappelli assumiu como interventor na segurança pública do DF. Em relatório divulgado por ele e sua equipe, a constatação: houve erro e tolerância da PM, numa sequência de fatos que culminaram no vandalismo. “Coincidências? Não me parece”, afirma Cappeli.

Jornalista Renato Alves, agredido no dia 8 de janeiro, volta ao Congresso pela primeira vez após os atos

Jornalista Renato Alves, agredido no dia 8 de janeiro, volta ao Congresso pela primeira vez após os atos – Reprodução/TV Brasil

Os fatos não se restringem apenas ao dia 8. Desde a vitória do presidente Lula nas urnas, sucessivos acontecimentos que não foram reprimidos formaram o cenário ideal para o que aconteceu: bloqueio de estradas, ônibus queimados, uma bomba na área do aeroporto da capital do país e, principalmente, os acampamentos em frente aos quartéis do Exército por todo o Brasil.

Para o ministro da Justiça, Flávio Dino, a existência dos chamados QGs foi decisiva para gerar diversos eventos violentos em Brasília que levaram aos atos antidemocráticos. “Infelizmente, os fatos do dia 8 mostram que esse acampamento acabou funcionando como uma espécie de hub, em que esses extremistas se encontravam, planejavam e executavam ações”, afirma.

Com a intervenção decretada pelo Executivo e o governador do DF, Ibaneis Rocha, afastado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), as prisões dos suspeitos começaram a ocorrer ainda na noite do dia 8. Quase 1.200 pessoas foram detidas. Entre eles, um casal que era dono de um lar temporário para cães resgatados. Não apenas os animais que estavam na custódia deles ficaram abandonados, como também os quatro filhos.

O Caminhos da Reportagem ouviu especialistas para saber o que leva as pessoas a irem tão longe em algo que acreditam sem questionar, como teorias da conspiração sobre urnas e processos democráticos. Para o psicanalista Christian Dunker, a forma de agir desse grupo lembra seguidores de seitas messiânicas, que aguardam o fim do mundo que nunca acontece. “Temos aí perigos de alta agressividade, de uma agressividade errática como a gente viu nas manifestações”, analisa.

Professor João Cezar de Castro Rocha

Professor João Cezar de Castro Rocha – TV Brasil/Reprodução

Para o professor e pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) João Cezar de Castro Rocha, que tem acompanhado grupos bolsonaristas há anos, a desinformação promovida por grupos interessados no poder é um ponto central. “O encadeamento de fake news produz teorias conspiratórias das mais delirantes. E há muitas  pessoas ganhando dinheiro com a radicalização do discurso político, porque a radicalização é o que produz like.

O episódio do Caminhos da Reportagem  “8 de janeiro –  Democracia de pé  vai ao ar neste domingo (12), às 22h, na TV Brasil.



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