A importância do trabalho conjunto entre os poderes públicos estadual e municipal, as agroindústrias de citros e os produtores no combate ao HLB (Huanglongbing) ou greening, principal doença da citricultura, foi destacada nesta quarta-feira (15) no Seminário Regional sobre Sanidade Agropecuária, realizado na 50ª edição da Expoingá, em Maringá. As ações de combate têm sido acentuadas nos últimos anos, principalmente nas regiões Noroeste e Norte do Estado, que concentram a maior parte das produções comerciais.

“A laranja fez uma revolução no Noroeste do Estado e estamos vendo esse cenário de doença, o que dói no coração”, disse o novo secretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Natalino Avance de Souza. Ele atuou como extensionista em Paranavaí no início da década de 80, quando a cultura ainda não era forte na região. “Ou a gente faz alguma coisa juntos agora ou daqui a dez anos estaremos aqui discutindo o que vamos colocar nesses municípios em substituição à laranja”.

Natalino salientou já ter ouvido elogios fora do Estado de que o caminho trilhado pelo Paraná, de fortificar os trabalhos em parceria, é o mais adequado. “Estamos trabalhando para que o Estado mais sustentável do Brasil seja o Paraná, a sustentabilidade começa com a competitividade, e competitividade é a gente salvar a lavoura, porque falamos de uma atividade importante, que gera emprego e renda, e segura o produtor no campo”, afirmou. “O compromisso do governo é estar com as prefeituras, com os industriais, com os produtores nesse programa”.

O mesmo compromisso foi apresentado pelo presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Otamir Cesar Martins. “A primeira pessoa interessada em manter o status sanitário da propriedade é o produtor. Depois vem a agroindústria e nós, o governo, porque quando chegarmos temos de entrar com medidas mais drásticas”, disse. “Precisamos trazer o produtor, a agroindústria, os sindicatos para discutir, pois o parque citrícola industrial do Paraná depende disso”.

“Eu louvo os prefeitos, industriais, produtores e o setor público que participaram desse encontro, porque daqui sairá a solução, que precisa ser implementada”, destacou o presidente do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater (IDR-Paraná), Richard Golba. “Por mais que vivamos em um mundo competitivo, a ferramenta essencial continua sendo a ação coletiva; se não houver mobilização da comunidade do entorno nós colocamos em risco um patrimônio que gera emprego e milhões de reais de receitas e impostos”.

ELOGIOS – Presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Suco Integral (Sucos BR) e diretor da Sucos Prats, Paulo Pratinha reforçou a importância de investir esforços para salvar a citricultura na região Noroeste do Paraná. “O greening é uma doença que vem acabando com os citros no mundo”, acentuou. Segundo ele, a Flórida (EUA), que era uma das principais regiões produtoras, com 240 milhões de caixas há 20 anos, produziu este ano apenas 19 milhões. O México está indo pelo mesmo caminho. “Sobra mais mercado de suco de laranja para o Brasil”, disse.

De acordo com Pratinha, este é o momento de pensar em um projeto eficiente de combate no Estado. “O Paraná está em um ponto em que ainda consegue controlar o greening, tem citricultura há mais de 30 anos e com uma capacidade industrial já instalada”, afirmou. “Greening só se controla com prevenção, não deixar chegar; se chegou, é preciso controle e erradicação de vetor, e o Paraná ainda tem chance de pegar e erradicar o vetor”.

Segundo o presidente da Sucos BR, o Estado do Paraná, por meio do Sistema Estadual de Agricultura, já se envolveu no trabalho de combate. “Aliás, o modelo que a Adapar e a Secretaria da Agricultura, junto com a iniciativa privada, vem mostrando e fazendo no Paraná é alvo de elogios pelo Brasil porque é um trabalho exemplar, e não é de agora”, referendou. Ele salientou a necessidade de reforçar o envolvimento das lideranças locais. “É o instante que a gente tem de transformar essa dificuldade em uma tremenda oportunidade econômica para o Noroeste do Paraná”.

ERRADICAÇÃO – O seminário foi também oportunidade para apresentação dos trabalhos técnicos realizados pelos órgãos estaduais. O gerente de Sanidade Vegetal da Adapar, Renato Blood, mostrou que a citricultura ocupa pouco mais de 29 mil hectares do território paranaense, com produção de 842,4 mil toneladas pelos mais de 600 produtores. O Valor Bruto de Produção em 2022 alcançou R$ 826,8 milhões. Em laranja, o Estado é o terceiro maior produtor no Brasil, com 21 mil hectares e 658 mil toneladas.

Aproximadamente 160 municípios já apresentaram a doença. Nesses há desenvolvimento de trabalho concentrado no combate ao psilídeo Diaphorina citri Kuwayama, vetor da doença, quanto na erradicação total das plantas contaminadas. “Há regiões em que a doença é endêmica, sem método curativo que não seja o da erradicação das plantas”, afirmou. Na região do Vale do Ribeira, próximo a Curitiba, que é grande produtora de tangerina, o esforço é de vigilância e prevenção para evitar que a doença chegue.

Segundo Blood, um dos grandes problemas que se tem observado é o comércio de mudas clandestinas. “Essa é uma briga que a Adapar tem enfrentado há anos, pois a qualidade dessas mudas é horrível”, disse. Além disso, há conversas constantes com as autoridades locais para parcerias no corte de citros nas regiões urbanas ou em imóveis com produção sem finalidade comercial, além de murta, planta ornamental hospedeira do psilídeo.

O trabalho também é feito diretamente pela iniciativa privada e produtores. “Quanto mais próximos Estado, iniciativa privada e municípios estiverem para combater um problema fitossanitário, maior a chance de sucesso”, afirmou Blood. “O Estado do Paraná puxou a frente desse trabalho no greening, e a expectativa é que em um ou dois anos coloquemos a doença em nível aceitável, dando segurança para que a citricultura possa avançar cada vez mais, como já tem acontecido com a expansão das áreas”.

BIOLÓGICO – O pesquisador do IDR-Paraná Humberto Godoy Androcioli apresentou o trabalho do instituto no desenvolvimento da Tamarixia radiata, uma vespa parasitóide criada em laboratório para ser inimigo biológico do inseto. Desde 2016 foram lançadas mais de 10 milhões de vespas no Paraná em áreas marginais às propriedades comerciais de 53 municípios. “Hoje dominamos a criação e conseguimos melhora das entregas”, acentuou.

No campo, as Tamarixia buscam os ninhos da Diaphorina citri para se reproduzir. Depositam seus ovos embaixo das ninfas (forma jovem), que servirão de alimento para as larvas. Cada vespinha pode eliminar até 500 psilídeos. Com isso promovem a redução no número dos vetores e da incidência da doença. O uso desse componente biológico, que é uma alternativa complementar de combate ao greening, também implica em menor aplicação de inseticida.

Recentemente o IDR-Paraná apresentou o aplicativo IDR-Tamaríxia, pelo qual os produtores de citros podem acompanhar, por um sistema de localização georreferenciada, o histórico de liberação das vespas. “O sucesso no controle com a vespinha dependerá de sua liberação em locais estratégicos, a frequência da liberação também é de suma importância”, ponderou o pesquisador. 

DOENÇA – O HLB ou greening dos citros é uma praga importante devido à severidade, rápida disseminação e dificuldades de controle. O greening afeta seriamente as plantas cítricas provocando queda prematura dos frutos, que resulta em redução da produção e pode levar à morte precoce. Além disso, os frutos ficam menores, deformados, podendo apresentar sementes abortadas, açúcares reduzidos e acidez elevada, o que deprecia o seu sabor, diminuindo a qualidade e o valor comercial tanto para consumo in natura como para processamento industrial.



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