Hoje é aniversário do compositor, letrista, produtor, jornalista e escritor Carlos Rennó. Em sua homenagem, aqui no Saudando Grandes Compositores da MPB, confira as histórias das músicas Escrito nas Estrelas e Todas Elas Juntas Num Só Ser, de sua autoria.

Carlos Rennó é um dos grandes letristas da nossa MPB | Foto: Divulgação.

Carlos Rennó iniciou sua carreira ao lado de parceiros como Tetê Espíndola e Arrigo Barnabé

Nascido em São José dos Campos, interior de São Paulo, em 1956, Rennó iniciou sua carreira ao lado de parceiros como Tetê Espíndola e Arrigo Barnabé, na fase da vanguarda paulistana, no início dos anos 80. 

Ao longo de sua carreira, o letrista fez parcerias com outros grandes nomes da MPB como:

  • Gilberto Gil;
  • Lenine;
  • Chico César;
  • Paulinho Moska;
  • João Bosco;
  • Rita Lee;
  • Tom Zé;
  • Pedro Luís;
  • e Roberta Sá.

Foi também gravado por outros grandes nomes como:

  • Gal Costa;
  • Maria Bethânia;
  • Paulinho da Viola;
  • Ney Matogrosso;
  • Margareth Menezes;
  • e Maria Rita.

Rennó e seu trabalho na recriação de músicas clássicas norte-americanas em português

Carlos Rennó também tem um trabalho relevante na recriação, em português, de clássicos da canção norte-americana. Uma das mais famosas é Façamos, Vamos Amar, versão do clássico Let’s Do It Let’s Do It, Let’s Fall in Love, composta por Cole Porter em 1929, e gravada com imenso sucesso por Ella Fitzgerald, em 1956, e por Louis Armstrong, em 1957.

A versão de Rennó foi gravada também com muito sucesso por Chico Buarque e Elza Soares no ano 2000.

Rennó é também autor e organizador de livros sobre canções – suas e de outros compositores como Gilberto Gil e Cole Porter – e ministra palestras, cursos e oficinas sobre canção e composição.

Saudando Grandes Compositores da MPB

Para homenagear o aniversariante do dia e seguir homenageando grandes compositores da nossa música popular brasileira – que são tão importantes e tem uma contribuição tão significativa quando cantores, intérpretes e músicos – nós damos continuidade à série Saudando Grandes Compositores da MPB, em que contamos a história de grandes clássicos das carreiras desses artistas.

Entre os sucessos de Carlos Rennó, falaremos sobre os clássicos  Escrito Nas Estrelas e Todas Elas Juntas Num Só Ser. 

A história da música ‘Escrito Nas Estrelas’, de Carlos Rennó 

Na voz de Tetê Espíndola, a canção Escrito Nas Estrelas – com letra composta por Rennó em cima da melodia de Arnaldo Black – venceu o Festival dos Festivais, da Rede Globo, em 1985, e tornou-se um grande hit, o primeiro grande sucesso nacional de Carlos Rennó.

A melodia de Arnaldo Black, tem uma primeira parte muito simples, em contraste com a segunda que se desenvolve sobre uma escala pentatônica, oferecendo alguma dificuldade a cantores que não alcançam uma região tão aguda como Tetê.

Segundo Rennó, o título Escrito nas Estrelas foi inspirado por It Was Written in the Stars, canção escrita em 1939 por Cole Porter para o musical Du Barry Was a Lady.

Você pode conferir mais detalhes sobre a história da canção na coluna Multiversos, de Roberta Campos, clicando aqui.

Curiosidade: Uma família musical!

Uma curiosidade: a família é toda muito musical. Carlos é pai da cantora e compositora Iara Rennó, fruto de seu relacionamento com a também cantora e compositora Alzira Espíndola, irmã de Tetê. Tetê, por sua vez, é casada com Arnaldo Black – parceiro de Carlos nesta canção – e eles são pais do cantor e compositor Dani Black!

Tetê Espindola durante o Festival dos Festivais, em 1985 | Foto: Reprodução.

A história da música ‘Todas Elas Juntas Num Só Ser’, de Carlos Rennó e Lenine

Composta por Carlos Rennó em parceria com Lenine e lançada o disco Lenine In Cité, em 2004, a canção Todas Elas Juntas Num Só Ser faz uma listagem e enumeração das musas da música popular, brasileira  – e também estrangeira – comparando-as com a “destinatária” para qual a canção foi feita, e julgando-as inferiores a ela.

Não canto mais Bebete nem Domingas Nem Xica nem Tereza, de Ben Jor;

Nem Drão nem Flora, do baiano Gil; 

Não canto mais Luiza, do maior; 

Já não homenageio Januária, Joana, Ana, Bárbara, de Chico; 

Nem Yoko, a nipônica de Lennon; 

Nem a cabocla, de Tinoco e de Tonico;

Só você, hoje eu canto só você.

Todas as musas da MPB juntas

Todas Elas Juntas Num Só Ser não nomeia a sua musa, mas a coloca em um patamar acima de todas as outras musas de todos os outros intérpretes e compositores citados, como pudemos ver nos exemplos acima: 

  • De Jorge Ben Jor:
    • Bebete, de Bebete Vambora, lançada por ele em 1969;
    • Domingas, que aparece na música Domingas, de 1969, mas também em Maria Domingas, de 1971, e em Dumingaz, de 1975;
    • Xica, da canção Xica da Silva, lançada por ele em 1976;
    • E Tereza, de Cadê Tereza, de 1966, mas que também aparece em Tê Tê (Te Te Te Te Tereza), de 1968; País Tropical, de 1969.
  • De Gilberto Gil:
    • Drão, que é o apelido de Sandra Gadelha – a Sandrão, que foi casada com Gil entre 1969 e 1980, e é mãe de Preta Gil e Maria Gil. Drão fala sobre a separação de Gil e Sandra e foi lançada em 1982;
    • Flora, foi lançada em 1981, para a atual esposa de Gil, sua empresária e companheira desde 1981, mãe de Bem, Bela e José Gil.
  • De Tom Jobim, a quem chamam de “o maior”:
    • Ana, da canção Ana Luiza, de 1973;
    • E Luiza, da música Luiza, de 1981.
  • De Chico Buarque:
    • Januária, da canção de mesmo nome, de 1967;
    • Joana, da música Joana Francesa, de 1973;
    • Ana, de Ana de Amsterdam, parceria com Ruy Guerra, de 1972;
    • E Bárbara, da canção homônima, também parceria com Ruy Guerra, de 1972
  • Do Beatle John Lennon:
    • Yoko Ono, sua esposa e grande amor, para quem ele escreveu a canção Dear Yoko, de 1980
  • E, finalmente, de Tonico e Tinoco:
    • Cabocla, da canção Cabocla Tereza, composição de Raul Torres e João Pacífico, que foi sucesso na voz da dupla em 1977.

E essa é só a primeira das mais de 10 estrofes de Todas Elas Juntas Num Só Ser.

Gilberto Gil e Sandra Gadelha foram casados de 1969 a 1980 | Foto: Thereza Eugênia.

“Fiz uma homenagem ao que representa a mulher para mim”

Lenine lembra que a música deu um trabalho danado, por ter sido extraída de um texto longuíssimo do poeta Carlos Rennó.

“Esta é uma canção de letra enumerativa, um procedimento aplicado em vários poemas e presente na obra de grandes compositores. Vislumbrei uma canção sobre canções que falam de tipos femininos”, diz o artista.

Rennó, declarou:

“Fiz uma homenagem ao que representa a mulher para mim”.

Mesmo Todas Elas Juntas Num Só Ser não nomeando a sua musa, nós sabemos que a musa de Lenine é sua companheira há mais de 40 anos e mãe de seus filhos, a jornalista e produtora de TV Anna Barroso.

Inclusive, em um trecho da música ele fala:

Ana do Rei e Ana de Djavan

Ana do outro Rei, o do Baião;

Nenhuma delas hoje cantarei,

só outra reina no meu coração.

Aqui, ele cita a Ana de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, da canção Ana, gravada pelo Rei em 1970; a Ana citada por Djavan na sua música Asa, de 1985; e a Ana Rosa, gravada por Luiz Gonzaga, em 1972, composição de seu parceiro Humberto Teixeira. E deixa implícito o amor por “sua” Anna.

“A mulher que contém em si todas as mulheres e a canção de amor que contém em si todas as canções”

Anna, em entrevista à jornalista Rosane Queiroz, no livro Musas e Músicas – A mulher Por Trás da Canção, declara:

A música Todas Elas Juntas Num Só Ser fala de uma mulher tão espetacular, que fico pensando que musa é algo utópico. Eu não me sinto musa, me sinto uma companheira que dá o esteio emocional para Lenine fazer o trabalho dele de uma forma tranquila. Minha irmã tem um casamento de trinta anos. Ela é musa. É amada. Ela e o marido se complementam, ela o ajuda a viver bem. Musa é toda mulher que ajuda seu amor a criar, não importa se ele é artista ou técnico em informática. (…)  Não sei se sou a musa de ‘Todas Elas…’, quem me dera. Mas, se for todas elas para Lenine, está de bom tamanho.”.

Além da canção ser um poço de culturas e conceitos, é um belo texto para testar o nosso grau de referências. Trabalha diretamente com a intertextualidade, ou –  como diz o poeta e compositor paraibano Bráulio Tavares, em texto extraído do Jornal da Paraíba, em julho de 2005 – Todas Elas Juntas Num Só Ser traz:

“a mulher que contém em si todas as mulheres e a canção de amor que contém em si todas as canções”.

Você consegue reconhecer todas as outras musas e seus autores presentes na canção de Carlos Rennó e Lenine?

Gostou de saber mais sobre as histórias de grandes canções da nossa música popular brasileira? Continue acompanhando a nossa série Saudando Grandes Compositores da MPB. Hoje, homenageamos o aniversariante Carlos Rennó.





Via R7.com