O paraense Airton Souza e a pernambucana Bethânia Pires Amaro, radicada em São Paulo, são os vencedores do Prêmio Sesc de Literatura 2023, com as obras Outro outono de carne estranha, escolhido como melhor romance, e O ninho, ganhador na categoria conto, respectivamente. O resultado da premiação foi divulgado nesta quarta-feira (24), pelo Serviço Social do Comércio (Sesc).

Esta é a 20ª edição do Prêmio Sesc de Literatura, considerado um dos mais importantes prêmios para o reconhecimento de escritores estreantes, que contabiliza desde sua criação, em 2003, mais de 20 mil obras inscritas e 35 novos autores revelados.

Em entrevista à Agência Brasil, a diretora de Programas Sociais do Departamento Nacional do Sesc, Janaína Cunha, destacou que esta é a terceira vez consecutiva que um autor paraense é agraciado com o Prêmio Sesc. “A gente se alegra muito com isso porque mostra que o prêmio tem abrangência nacional. São dois autores, um do Pará e um de Pernambuco, que estão fora do circuito literário tradicional, reconhecido nos grandes centros de produção literária, e são agraciados por sua narrativa. Então, a gente fica feliz e positivamente surpreendido com esse resultado”.

Circulação

O lançamento oficial dos dois livros será feito em novembro deste ano, com publicação pela editora Record, parceira do Sesc no projeto. A tiragem inicial será de, no mínimo, 2,5 mil exemplares. Em 2024, os autores farão a divulgação das obras em circulação nacional, sendo recebidos em boa parte nos departamentos regionais do Sesc nos estados para apresentação dos livros e falar sobre o projeto, em um contato mais direto com o público, com quem terão a oportunidade de abordar sua trajetória até sair vencedor da premiação. Os autores vencedores participarão de eventos promovidos por parceiros do Sesc, incluindo feiras literárias.

“A gente fica muito estimulado, porque é um processo contínuo e permanente de atenção à literatura e à produção literária. Não se trata de uma atenção única de receber as propostas, reunir uma comissão, categorizar, avaliar e chegar a um resultado final”, manifestou a diretora do Departamento Nacional do Sesc. Segundo Janaína, há um processo contínuo de estímulo à produção e reconhecimento do valor dessa produção, e de ressignificação do papel da literatura no cotidiano das pessoas. “Isso é que a gente acha mais bacana. É esse ambiente que tem uma permanência da ação, e não uma ação pontual com seus méritos específicos”.

A comissão final que selecionou o romance de Airton Souza foi composta pelos escritores Joca Reiners Terron e Suzana Vargas e, a que elegeu o conto de Bethânia Pires Amaro teve participação dos também escritores Giovana Madalosso e Sérgio Rodrigues. A origem do escritor não é identificada pela comissão avaliadora. “Isso é muito curioso. Mostra de fato que o Pará está se encontrando nesse lugar de referência de produção literária. É necessário olhar para o país como um todo, revelando o mérito das narrativas, de onde quer que elas venham, e como elas vêm se constituindo e consolidando no Brasil”. As obras são inéditas e revelam conteúdos mais robustos que exigem uma performance de escritor, ainda que sejam livros inéditos, comentou Janaína.

Inscrições

A edição 2023 do Prêmio Sesc de Literatura recebeu 1.495 inscrições, das quais 770 foram na categoria romance e 725 em conto. Janaína Cunha informou que a média, nos últimos anos, tem ficado em torno de 1.500 inscrições. “É um volume alto porque ele absorve produções já finalizadas, livros já robustos, de autores estreantes. É bastante desafiador, porque não são obras primárias”. Para a diretora, o total de inscritos foi muito expressivo e relevante “ e com uma cobertura muito importante das narrativas locais, convergindo para um olhar nacional”.

Obras

Airton Souza tem 41 anos, nasceu em Marabá (PA), onde mora até hoje. É professor de história para crianças e adolescentes do ensino básico e mestre em Letras. Atualmente, cursa doutorado em comunicação, cultura e amazônia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Seu romance Outro outono de carne estranha remonta aos anos 1980, no final da ditadura, quando dois homens se encontram e se apaixonam em pleno garimpo de Serra Pelada, onde relacionamentos homoafetivos eram proibidos. O escritor narra fatos também inspirados em sua vivência pessoal. “A minha escrita é uma forma de pagar uma dívida afetiva e de retratar esse ambiente complexo que existiu no Brasil daquela época e que pode continuar a coexistir até hoje nos garimpos espalhados por essa imensa Amazônia”, assinalou.

Já os contos de O ninho tratam das relações familiares sob a ótica feminina e buscam dessacralizar a casa como um lugar idílico e de segurança afetiva, como costuma ser retratado nas postagens de famílias perfeitas das mídias sociais, explicou Bethânia Pires Amaro, 34 anos. “Queria mostrar a quem lê, e que muitas vezes vive distúrbios alimentares, abusos e racismo em solidão, atrás de quatro paredes, que essa pessoa não está só”, disse a autora. Bethânia viveu a infância no interior da Bahia e na capital do estado, onde percorria sebos e bibliotecas à procura de livros para ler. Há nove anos, ela se mudou para a capital paulista, onde atua como advogada pública.



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