A propaganda ideológica patriótica e de missão heroica do exército pode até convencer bastante gente, mas vivenciar o terror inglório de uma guerra é algo que só podemos imaginar e, graças ao cinema, de uma forma bem realista. É verdade que são inúmeros os filmes que narram as façanhas de heróis norte-americanos, homens que são quase semideuses triunfantes, lutando em favor da pátria e salvando seus irmãos de armas, como o aclamado “O Resgate do Soldado Ryan” e “Sniper Americano”. Mas os que mais se aproximam da verdade são as produções antiguerras, que funcionam como comentários sociopolíticos, despertam reflexões sobre os motivos da guerra, sobre os afetados por ela, sobre os efeitos da violência na saúde mental dos soldados e sobre quem está por trás destes conflitos, o que ganham e o que é que os motivam.

“Posto de Combate” é uma produção sobre uma missão nada vitoriosa no Afeganistão, quando, em 2009, ocorre a Batalha de Kamdesh, uma das mais sangrentas para o exército americano. Em uma base de contrainsurgência, com objetivos estratégicos de enfraquecer a milícia anti-coalizão e estabelecer a confiança da população no governo, soldados são colocados no centro de uma cadeia de montanhas que favorecia a visibilidade e ataques por soldados do Talibã. A tropa era constantemente atacada na região e, após a violenta Batalha de Kamdesh, o exército se viu obrigado a se retirar do local.

O conflito principal iniciou  no dia 3 de outubro, às 3 horas da manhã. Cerca de 400 soldados do Talibã violaram o perímetro do local da base e atacaram o quartel, onde havia apenas 54 soldados americanos. Itens da tropa foram roubados, foi ateado fogo na base e oito soldados americanos foram mortos, outros 27 feridos. Já entre os talibãs mortos, totalizaram 150. A história do combate foi narrada pelo jornalista da CNN Jake Tapper, no livro “The Outpost: An Untold Story of American Valor”.

“Posto de Combate”, que dramatiza para as telas os acontecimentos reais, é tão vigoroso e tátil, que retrata da maneira mais realista possível o horror vivido pelos soldados naquele conflito, mas não sem antes amaciar o terreno. O diretor Rod Lurie, primeiro, nos faz conhecer alguns dos homens que estavam na base, como o capitão Keating (Orlando Bloom), o sargento Clint Romesha (Scott Eastwood) e o soldado Ty Carter (Caleb Landry Jones). Acompanhamos durante um terço de filme a rotina da tropa, as brincadeiras, brigas e diálogos, ligações para familiares e até o sentimento de insegurança que viviam no centro de um alvo fácil para os inimigos, em um local nada favorecido por nenhum tipo de lógica ou logística.

As cenas de conflito nos transportam direto para o terreno da batalha, sentindo a adrenalina e a angústia, vendo tudo acontecer pelos olhos da câmera, que fica na mão do operador. A lente corre junto com os soldados, se agacha, vira para olhar para quem está falando, treme com os impactos e participa como um personagem das cenas. É uma experiência sensorial que nos leva com praticamente a mesma força de uma realidade virtual. A atuação de Landry Jones é uma das melhores de sua carreira. E, para compor o elenco de combatentes, o filme utiliza soldados reais, que também trabalharam em postos no Afeganistão.

“Posto de Combate” é desgastante, porque nos coloca nas peles dos personagens. Vivemos a ansiedade e o medo junto com eles, neste transporte incrível para o mundo da imaginação que é o cinema. Um espetáculo cinematográfico e um olhar de lupa sobre a realidade da guerra, o filme vai te entreter e te informar.


Filme: Posto de Combate
Direção: Rod Lurie
Ano: 2019
Gênero: Drama/Guerra/História
Nota: 9/10



Via R7.com