“Ninguém faz pentatlo só por hobby. Ninguém é tão maluco para isso”. Assim define a atleta curitibana Isabela Abreu, 28 anos, o esporte que escolheu disputar, o pentatlo moderno, um dos mais difíceis justamente por reunir cinco modalidades somadas: hipismo, esgrima, natação, tiro desportivo e corrida. A carreira de Isabela Abreu é o tema da vez na série de reportagens Geração Olímpica e Paralímpica da Agência Estadual de Notícias, que mostra o impacto do apoio do Governo do Paraná na carreira dos atletas e paratletas que disputarão os Jogos de Paris-2024.

Bolsista do programa Geração Olímpica e Paralímpica (GOP) do Governo Estadual, Isabela vai representar o Paraná na Olimpíada de Paris-2024. A meta da paranaense nos primeiros Jogos que disputa é se classificar entre as 18 finalistas. Daí por diante, o plano é seguir os passos de Yane Marques, brasileira que surpreendeu o universo do pentatlo moderno ao conquistar o bronze na Olimpíada de Londres-2012.

Yane, aliás, foi a inspiração de Isabela para “ser maluca” de voltar ao pentatlo moderno. Após treinar a modalidade na adolescência no Colégio Militar do Exército em Brasília, onde morava com a família, ela havia deixado o esporte para se dedicar aos estudos. Em 2013, ingressou no curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Paraná (UFPR). E no final do mesmo ano Yane Marques se mudou para Curitiba onde foi fazer a preparação para os Jogos do Rio-2016 no Colégio Militar do Exército, no bairro Tarumã.

“Foi uma inspiração ver a Yane treinar de perto todo dia. Ali eu vi como é a vida de um atleta de alto rendimento, que tem dias bons e dias ruins” , aponta Isabela, que no mesmo período recebeu convite para também treinar no Colégio Militar de Curitiba. “A primeira vez fui no treino só para assistir. No segundo treino já levei tênis, no outro levei maiô de natação, e assim foi”, recorda a pentatleta.

A partir de então, passou a treinar de manhã e de tarde. A faculdade ficou para de noite, com a graduação concluída em 8 anos por causa da agenda de competições. Só que em 2019, o curso na UFPR teve de ser trancado para tentar buscar pela primeira vez o sonho olímpico. E aí veio a maior frustração até aqui da carreira. Nos Jogos Pan-Americanos de Lima no mesmo ano, Isabela não conseguiu a classificação para a Olimpíada de Tóquio ao terminar na sexta colocação – a vaga ficou para outra brasileira, que terminou a prova mais bem colocada do que ela, na quarta colocação.

“Foi muito rápida a frustração. Liguei para minha psicóloga dizendo que estava muito mal e queria parar. Mas não tive nem tempo de remoer essa derrota, porque no dia seguinte já tinha a final de duplas para disputar e aí conquistei o bronze no Pan e continuei em frente”, lembra a atleta, que conquistou a medalha com Priscila Oliveira.

Isabela bota na conta da própria inexperiência a frustração de não ir para os Jogos de Tóquio. “Eu era muito amadora. Sabia muito de mim, mas não sabia nada das minhas adversárias. Acreditava muito em mim, mas subestimei todas as outras competidoras. Foi um grande aprendizado”, revela.

Cenário que mudou quando Isabela passou a treinar com o também curitibano Athos Schwantes, nome referência na esgrima nacional que atualmente trabalha na Itália. “Abracei o Athos na minha comissão. Ele me fez crescer muito como atleta. Eu era uma antes do Athos e agora sou outra trabalhando com ele”, diz Isabela. “Foi nesse momento que me foquei totalmente na busca da vaga olímpica. Senti muita dor em perder a vaga para Tóquio. E pus na cabeça que não queria passar aquilo de volta”, enfatiza.

A classificação olímpica veio nos Jogos Pan-Americanos de Santiago ano passado. Ao terminar a prova na 9ª colocação, Isabela se classificou para Paris ao terminar o Pan como a sul-americana mais bem colocada na disputa. Com vaga garantida desde outubro, a paranaense só pensa em Paris.

“A conquista da vaga foi uma reviravolta. Desde lá disputei duas Copas do Mundo, que na verdade, para mim, foram treinos de luxo porque minha meta é a Olimpíada”, afirma. “Pentatlo é uma caixinha de surpresas e eu vou chegar na minha melhor forma em Paris. Então, quem sabe eu não chegue mais longe do que estou planejando”, cogita Isabela se apegando ao exemplo de Yane Marques na Olimpíada de 2012.

COMISSÃO TÉCNICA – Segundo Isabela, o apoio do Geração Olímpica e Paralímpica tem sido fundamental em suas conquistas. Há sete anos no projeto, a atleta afirma que o GOP foi fundamental para montar sua comissão técnica e adquirir equipamentos para competir. A equipe da atleta é formada por 12 profissionais: sete treinadores para as cinco modalidades da disputa, além de médico, fisioterapeuta, fisiologista, nutricionista e psicólogo.

“Sem o Geração Olímpica eu não conseguiria manter essa comissão técnica. O programa me permite manter a equipe e ajuda muito na aquisição de material, que é caro”, argumenta Isabela.

Um dos treinadores, Leonardo Sumida, responsável pelos treinos de corrida e natação e que também é preparador físico de Isabela, também é integrante do Geração Olimpíca e Paralímpica. “Assim como isso é minha vida, o pentatlo também é a vida do Leonardo. Afinal, eu passo mais tempo com ele que com meus pais”, afirma Isabela.

Com o apoio do Governo do Paraná, Isabela também consegue disputar provas com materiais de primeira linha, o que tem feito toda diferença nos resultados.

Só a pistola laser da prova de tiro custa R$ 7 mil e é preciso ter duas, com uma reserva para caso a outra falhe, mais o alvo, que custa em torno de R$ 4,5 mil. Na esgrima, a espada custa R$ 1,5 mil e volta e meia quebra, sem contar o uniforme completo, que custa perto de R$ 6 mil. Na natação, o maiô com tecnologia que reduz o atrito com a água custa R$ 4 mil. Isso fora o tênis para corrida, além de outros gastos.

“O programa Geração Olímpica está fazendo toda diferença para eu ter um bom equipamento de treino. Afinal, não dá para perder uma prova porque o equipamento é inadequado”, ressalta Isabela.

COPEL – Até o final de 2024, o programa terá investido mais de R$ 55 milhões em bolsas financeiras para atletas e técnicos vinculados a instituições paranaenses (federações e escolas), atendendo desde jovens promessas a estrelas de renome internacional. A iniciativa é patrocinada pela Copel desde o início – e de forma exclusiva desde 2013.

Para o presidente da Copel, Daniel Slaviero, o apoio busca tornar o Paraná referência de esporte olímpico e paralímpico no Brasil, ao valorizar os atuais talentos do estado. “Nós temos orgulho de apoiar, junto com o governo do Paraná, esses atletas e profissionais que por muito tempo vêm se preparando para um dos momentos mais significativos da história dos esportes. Estamos torcendo com toda energia”, comenta.

O programa abrange, além do pagamento mensal de bolsas financeiras a atletas e técnicos, recursos necessários para a execução e gestão das atividades previstas, confecção de uniformes, material de divulgação e promoção, infraestrutura de logística (hospedagem, alimentação e transporte), programas de treinamento e capacitação, bem como avaliações médicas e laboratoriais dos atletas.



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