Além da importância das medidas de prevenção, este período de mobilização internacional contra o câncer de mama e do colo de útero, conhecido como Outubro Rosa, também coloca em foco as pesquisas científicas que tornam possível ampliar o acesso a novas terapias, melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevida dos pacientes. Atualmente, projetos de pesquisa e extensão da UFPR e da UEPG recebem apoio financeiro da Agência Araucária.
A pesquisadora Daniela Fiori Gradia coordena o estudo “Identificação das redes regulatórias mediadas pelo receptor associado à resistência ao tratamento com tamoxifeno (EphA2) em câncer de mama”. A professora de Genética da Universidade Federal do Paraná (UFPR) explica que, entre os subtipos de câncer de mama, um problema bastante incidente é a aquisição de resistência ao tratamento.
“Nem todos os casos de câncer de mama são iguais e nas células tumorais com muita expressão de estrogênio a terapia com a droga chamada tamoxifeno tem sido bem eficiente para a maioria dos casos. Mas alguns tumores desenvolvem a capacidade de resistir a ação desta droga, tornando o tratamento ineficaz”, diz.
Buscando entender este mecanismo, o grupo de pesquisadores tem estudado uma proteína que é muito importante na via metabólica do estrogênio, chamada EphA2. O tamoxifeno age impedindo o crescimento dos tumores que apresentam grande quantidade de estrogênio.
“Nosso objetivo é impedir a produção desta proteína em células tumorais e avaliar o comportamento destas células na presença e na ausência do tamoxifeno”, afirma Daniela. “Tentamos identificar outras moléculas importantes nesta via que possam ser usadas no futuro como alvos alternativos no tratamento do câncer de mama e em casos de resistência ao medicamento”.
O projeto está na sua fase inicial, com a análise de dados de pacientes em relação ao perfil de proteínas que são expressas em diferentes grupos. Com a identificação de novos candidatos a alvo, há possibilidade do desenvolvimento de outros fármacos que auxiliem no tratamento, mesmo em casos de tumores resistentes ao tamoxifeno.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de mama na população feminina é o tipo mais frequente (excluindo câncer de pele não melanoma). São estimados 3.650 novos casos a cada ano no Paraná. Além do alerta quanto aos cuidados e fatores de risco, algumas pesquisas estudam o fator da predisposição ao câncer.
É o caso do projeto “Análise de SNP-LncRNAs como potenciais marcadores de predisposição ao desenvolvimento de câncer de mama”. O objetivo dele é procurar na parte do DNA, que no passado era considerado como DNA lixo, pequenas mudanças no material genético e que aumentam a chance de uma mulher desenvolver câncer de mama.
“Essas variações no DNA, quando analisadas isoladamente, geralmente influenciam pouco na predisposição. Porém, nosso projeto já identificou algumas variantes mais comuns em algumas mulheres que desenvolveram câncer de mama e agora queremos estudar o impacto de analisar muitas alterações conjuntas”, explica a coordenadora do projeto, Jaqueline Carvalho de Oliveira, também professora de Genética da UFPR.
O grupo de pesquisadores pretende reanalisar bancos de dados públicos para identificar partes de DNA associados com a suscetibilidade ao desenvolvimento de câncer de mama. “Para que nesta análise em grupo a gente consiga realmente identificar mulheres que têm maior chance de desenvolver o tumor, e que isso ajude em um rastreamento mais efetivo para o diagnóstico precoce”, afirma.
O projeto está em nível de pesquisa básica. Os pesquisadores esperam, a partir destas informações, entender melhor a doença e, no futuro, desenvolver novos marcadores de predisposição ao desenvolvimento de câncer de mama.
As duas pesquisas acontecem no Laboratório de Citogenética Humana e Oncogenética da UFPR, que atua na pesquisa do câncer de mama há mais de 30 anos.
PREVENÇÃO – Além de pesquisas para o avanço do tratamento e diagnóstico precoce de câncer, as universidades também recebem incentivo da Agência Araucária para projetos de extensão com ações junto à comunidade na prevenção ao câncer de mama e de colo de útero. O câncer uterino é o quarto tipo de câncer mais frequente entre as mulheres. São estimados 790 casos novos casos ao ano no Paraná.
Ednéia Peres Machado, professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), coordena um projeto de empoderamento de mulheres por meio da prevenção ao câncer de colo do útero. São ações de incentivo à formação de lideranças comunitárias em regiões de bolsões de pobreza na prevenção contra o câncer para consulta médica e realização de exames de Papanicolau, além de ações de prevenção contra o vírus HPV junto a crianças de escolas públicas.
“Além dos professores do projeto, a equipe conta com uma psicóloga e um biólogo, acadêmicos de enfermagem e as enfermeiras das Unidades Básicas de Saúde que nos dão um importante apoio e onde são feitas as palestras. Levamos também mulheres que tiveram câncer, que fazem parte da Rede Feminina de Combate ao Câncer, para relatar a experiência delas e falar da importância da prevenção”, conta.
O projeto trabalha com duas escolas onde foram sensibilizadas cerca de duas mil crianças para a vacinação contra o HPV. Em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de Ponta Grossa, a primeira dose foi aplicada em maio, e em novembro será a segunda dose. A equipe também desenvolveu uma cartilha sobre a importância da vacinação e alguns alunos também foram capacitados para serem disseminadores na escola e em uma página criada pela equipe nas redes sociais em que desenvolvem ações com vídeos sobre a prevenção ao HPV.
“A universidade quer estar cada vez mais próxima da população e estas ações de combate ao câncer são uma importante forma de cumprir o nosso papel social, apoiando na resolução de problemas cotidianos que a comunidade tem”, ressalta Ednéia.