O Hospital Universitário (HU) da Universidade Estadual de Maringá (UEM) participou, durante o mês de maio, de um processo de doação de pulmões, o terceiro em toda a sua história. O órgão foi captado no HUM pela equipe do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, centro de referência em transplante pulmonar na região Sul. O transporte foi realizado por avião disponibilizado pelo Governo Estado do Paraná devido ao prazo bastante curto para o procedimento.
A captação foi acompanhada pela Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) do HUM, que acolheu e conversou com a família do paciente, obtendo a autorização para doação de órgãos e intermediado pela Organização de Procura de Órgãos de Maringá (OPO-Mgá), da 15ª Regional de Saúde, vinculada ao Sistema Estadual de Transplantes do Paraná (SET-PR), responsáveis pela organização do processo de captação e logística.
No Brasil, de acordo com a legislação federal, a autorização para doação de órgãos de falecidos compete à família (cônjuge e familiares de primeiro e segundo grau). De acordo com o Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), foram realizados, em 2024, 93 transplantes de pulmão, com o “transplante pioneiro” no Brasil feito em 1989.
Segundo a enfermeira coordenadora da CIHDOTT do HUM, Rosane Almeida de Freitas, o hospital já participou de outras duas captações em 2016 e 2021. “O processo se destaca pela dificuldade de manutenção desse órgão. A doação de pulmões possui algumas peculiaridades relacionadas ao doador que podem inviabilizar a validação e a captação desse órgão para transplante”, ressaltou. Entre elas, cita Rosane, estão idade limite do doador, que deve ter até 60 anos, e condições clínicas e doenças pulmonares pré-existentes, como Covid-19, Influenza, entre outras.
“A ventilação mecânica, à qual o doador é submetida, pode contribuir para o desenvolvimento de um quadro de pneumonia. O tempo é outro fator crucial, pois o tempo máximo da captação à chegada ao receptor é de até quatro horas”, complementou Rosane.
Para o diretor médico do Hospital Universitário, Enio Molina Teixeira Filho, o processo de captação envolve uma logística bastante complexa, com tempo extremamente limitado, critérios rigorosos de viabilidade clínica e articulação entre múltiplas equipes especializadas de diferentes estados.
“Para isso, é fundamental o trabalho sensível e competente da nossa CIHDOTT, que acolhe e orienta as famílias com profissionalismo e empatia. É uma demonstração da maturidade do nosso sistema hospitalar e da capacidade do HUM de integrar uma rede nacional de alta complexidade”, completou.
TRABALHO INTERNO – Em 2025, o trabalho da CIHDOTT do HUM no acolhimento, apoio e esclarecimento às famílias já resultou em 11 autorizações das 15 famílias entrevistadas para doação de órgãos e tecidos, representando uma taxa de sucesso de pouco mais de 73%.
Segundo dados da Comissão, até maio foram entrevistados nove familiares de pacientes em morte encefálica. Foram obtidas sete autorizações, o que representa um índice de 78% de aceite para captação de múltiplos órgãos e tecidos (pâncreas, rins, fígado, valvas cardíacas e pulmões). Foram entrevistados seis familiares de potenciais doadores em parada cardiorrespiratória e obtidas quatro autorizações, um índice de 67% de aceite para captação de tecidos (córneas).
A taxa de recusa da doação de órgãos e tecidos no Hospital Universitário da UEM é bem menor do que a média nacional. O percentual de famílias que rejeitam a doação no Brasil é de 45%, segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). No Paraná, esse índice é menor, de 28%, e no HUM está em 14%.