Exceto no extremo Sul, junho de 2024 foi um mês extremamente seco no Paraná. A atuação de bloqueios atmosféricos com formação de uma extensa massa de ar seca e quente sobre a maior parte do Estado impediu o avanço dos sistemas frontais (frentes frias), culminando em um mês praticamente sem registro de precipitações no Norte e Noroeste do Paraná. O maior acumulado mensal de chuva ocorreu em Francisco Beltrão, no Sudoeste, onde choveu 202,4 mm.
As anomalias de precipitação foram inferiores à média histórica em todas as regiões do Estado. O Sudoeste e Sul foram as localidades que mais se aproximaram da normal climatológica com déficits de 26,4 mm e 42,2 mm, respectivamente. As regiões Noroeste e Norte foram as mais impactadas pela seca. No Litoral, RMC, Oeste e região Central a situação também foi crítica ainda que em menor proporção. A média estadual de precipitação foi de 44,8 mm, sendo que a média histórica é de 115,5 mm.
A água disponível no solo, que representa a disponibilidade hídrica para as culturas, foi extremamente crítica, atingindo o nível zero em grande parte do Estado. Nas regiões mais ao Sul e no Litoral onde foram registradas precipitações a água disponível variou de 20 a 80 mm.
TEMPERATURAS ALTAS – As temperaturas foram extremamente elevadas para a época, especialmente as máximas, com valores muito acima da média histórica em todo o Estado, devido à presença do forte bloqueio atmosférico que persistiu durante todo o mês.
As temperaturas máximas variaram de 1,5 oC a 5,5 oC acima da média histórica. Em Umuarama, por exemplo, no Noroeste do Estado a anomalia das temperaturas máximas atingiu 5,5 oC. O maior valor absoluto de temperatura foi 35,2 °C registrado em Antonina no dia 23. As temperaturas mínimas variaram de 0,1 oC a 4,2 oC acima da média histórica. Em São Miguel do Iguaçu, no Oeste do Estado, a média das temperaturas mínimas foi 17,2 oC, sendo que a média histórica é 13 oC. Em Londrina, junho de 2024 foi o mais quente de toda a história do município, desde quando iniciaram as medições em 1976. Na média estadual, a temperatura máxima e mínima foram 3,4 oC e 2,1 oC acima da média histórica, respectivamente.
Houve atuação de uma forte massa polar no final do mês que provocou geadas em diversas regiões do Paraná, exceto no Norte, Noroeste e Litoral. A menor temperatura registrada foi de -3,5 oC no dia 30/06 no município de General Carneiro, localizado no extremo Sul paranaense. Com base nos boletins semanais elaborados pelos técnicos do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral) apresenta-se a seguir a influência das condições climáticas do mês de junho sob as principais culturas agrícolas do Paraná.
Em grande parte do Paraná o acumulado de chuvas do mês de junho não foi suficiente para atender as necessidades das culturas no campo. Destaca-se o Noroeste e o Norte, onde não ocorreram precipitações durante 34 dias (28/05 a 30/06). Nas demais regiões a estiagem também foi problemática, ainda que em menor proporção, sendo o Sudoeste a única exceção.
Veja o comportamento das culturas
TRIGO – A semeadura do trigo atingiu 96% no final de junho e teve algumas interrupções ao longo do mês pela falta de umidade do solo. Nas regiões mais tardias no extremo Sul do Paraná a condição foi favorável devido às chuvas ocorridas do fim do mês. Por outro lado, as lavouras mais precoces implantadas em abril que enfrentaram secas e temperaturas mais elevadas, como no Norte do Paraná, apresentaram condições de desenvolvimento ruins, como baixo crescimento, folhas amareladas, germinação lenta e desigual, menor número de perfilhos e redução no potencial produtivo. Nessas regiões também foi verificada maior incidência de pulgões e lagarta-rosca e uma menor eficiência dos fungicidas para controle de manchas foliares. Para os demais cereais de inverno como as aveias e a cevada a situação é semelhante.
FEIJÃO 2ª SAFRA – A colheita do feijão segunda safra foi praticamente encerrada e antecipada. Ao contrário do mês de maio, o clima mais seco de junho favoreceu a colheita, secagem de grãos a campo e a qualidade do produto colhido. Confirmou-se a quebra na produtividade do feijão devido à estiagem e excesso de chuva ocorridos durante a safra.
MILHO 2ª SAFRA – Devido ao clima seco e quente a colheita de milho 2ª safra foi amplamente favorecida e também antecipada, atingindo 53% no final do mês. No entanto, a seca persistente na maioria das regiões produtoras do Estado provocou redução na produtividade, especialmente no Noroeste e Norte paranaense. Apesar disso, a qualidade da maioria dos grãos colhidos foi satisfatória. Algumas áreas que apresentaram condições ruins foram destinadas à silagem ao invés de grãos. As regiões Sul e Sudeste apresentaram boas produtividades favorecidas pelas precipitações. No final de junho, 90% das lavouras estavam na fase de maturação e 10% na frutificação.
FRUTICULTURA – Finalizou-se colheita da maçã com produtividades inferiores ao do ano passado, devido ao excesso de chuvas durante as floradas em outubro e novembro. Também foi finalizada a colheita do caqui que apresentou pomares com frutos irregulares e maturação acelerada devido às secas e altas temperaturas. Em junho também foi realizada a colheita da uva favorecida pelo tempo seco. A laranja colhida apresentou produtividades abaixo da média em virtude das estiagens ocorridas durante a safra.
OLERÍCOLAS – A segunda safra de batata passou de 56% colhidas em maio para 86% colhidas em junho. As batatas irrigadas tiveram bom desenvolvimento, mas as de sequeiro apresentaram baixas produtividades nas áreas atingidas pela seca contrastando com boas produtividades onde as precipitações foram mais regulares. Muitos produtores optaram pela irrigação da cebola implantada tanto via sementes como por mudas, para garantir o bom desenvolvimento inicial das plantas. Outras hortaliças também demandaram mais irrigação devido à estiagem prolongada. Quanto ao tomate, foi encerrada a primeira safra e alguns produtores fizeram o plantio da nova safra, realizadas majoritariamente em estufas devido à possibilidade de proteção das plantas contra eventuais geadas.
CAFÉ – A colheita do café evoluiu de 15% em maio para 47% em junho, favorecida pelo tempo seco, mas limitada pela disponibilidade de mão de obra. O processo de secagem natural dos frutos ao sol também foi beneficiado pela ausência de chuvas. A taxa de conversão do café em coco em café beneficiado, denominada renda, foi baixa, e isso ocorreu devido à quantidade relevante de grãos miúdos provocado pelas altas temperaturas e longos períodos de estiagem durante a safra.
MANDIOCA – Em junho foi realizada a colheita e o plantio de novas áreas de mandioca, ambas as atividades apresentaram dificuldades devido à baixa umidade no solo.
CANA-DE-AÇÚCAR – A colheita de cana e o plantio da nova safra foram favorecidos pelo tempo seco de junho nas regiões produtoras do Norte e Noroeste paranaense. As produtividades foram normais apesar da seca.
PASTAGENS – No Noroeste, principal região de bovinocultura de corte do Paraná, os pastos apresentaram baixo volume de massa verde dificultando o manejo do gado e com necessidade de suplementação com ração e silagem, o que eleva o custo de produção. Essa condição também começou a ser observada no Norte do Estado.
FLORESTAIS – O clima seco propiciou o corte de eucalipto e pinus, bem como a colheita do pinhão, o qual tem apresentado uma melhor safra comparativamente ao ano passado.