Fechado para reformas de sua sede, o Museu da Diversidade Sexual está promovendo hoje (11) uma caminhada pelo centro da cidade de São Paulo. O objetivo é celebrar o Carnaval e redescobrir memórias, contando um pouco da história do centro da capital, local que é muito representativo para a comunidade LGBTQIAP+.

A saída do passeio ocorreu na estação República de Metrô, onde está localizada a sede do museu. De lá, os participantes do passeio saíram em caminhada pela Praça da República e o Largo do Arouche. “Hoje acontece o Rolês Territorialidades, que é um evento que faz parte do projeto Memórias e Território, dentro do programa Museu sem Muros. Como o museu está fechado, temos vários programas que estão acontecendo. Vamos fazer um percurso pela República para conhecer a história LGBTQIAP+, especificamente dentro da temática de Carnaval e das festividades”, disse Nay Costa, educador do núcleo de educação do museu, em entrevista à Agência Brasil.

“O objetivo é entender como a cena cultural e principalmente a cena LGBTQIAP+ vai se desenvolvendo. Entender que, se existe uma cena LGBTQIAP+, é porque em algum momento essa cena precisou ser construída, que tivemos que resistir e construir esses espaços para que nossos corpos pudessem usufruir desses espaços com segurança, lazer, dignidade e respeito”, acrescentou.

A caminhada pelo centro vai passar por lugares emblemáticos para essa comunidade tais como o Caneca de Prata e a balada Freedom. “A República é um dos maiores bairros LGBTQIA+ do mundo. Ele está aqui resistindo desde a época da ditadura militar”, disse Val Chagas, coordenadora pedagógica do núcleo de educação do museu. “Quando tinham essas batidas policiais, em que pessoas LGBT eram presas apenas por serem LGBTs, esses bares eram lugares políticos. Eles acolhiam essas pessoas e as escondiam até a polícia passar e ir embora. Esses lugares nunca foram só sobre festividade. Mesmo nos momentos de festa e de celebração, eles sempre tiveram um fundo político”.

Museu

A caminhada marca também dois momentos de dificuldades pelas quais passa o museu. O primeiro deles é a reforma do espaço, que será ampliado. “O museu ocupava um espaço de aproximadamente 100 metros quadrados. Era um espaço muito pequeno para contar a nossa história e apresentar os artistas que compõem a sigla. O museu vai passar por essa reforma e vai ser ampliado para mais ou menos cinco vezes o tamanho que ele tem hoje. Isso vai dar possibilidade de ele ter uma exposição de longa duração e constituir de maneira melhor o seu acervo”, disse Val Chagas. A previsão é de que o museu possa ser reaberto ao público ao final do primeiro semestre deste ano.

O outro momento é a luta pela resistência. Em abril do ano passado, o museu teve que ser fechado por decisão judicial após um deputado estadual ter questionado o contrato de cerca de R$ 30 milhões firmado entre o governo do estado de São Paulo e o Instituto Odeon, responsável pela administração do espaço. O museu ficou fechado por quatro meses. Na época, o deputado Gil Diniz chegou a comemorar o fechamento do museu em sua rede social. “Não terá a mostra ‘Drag’ no Museu LGBT graças a esse deputado Gil Diniz, que teima em fiscalizar o governador e seus secretários!”, escreveu ele, que se identifica como bolsonarista no Twitter.

“No ano passado, nós fomos vítimas de um processo de LGBTfobia. Foi uma perseguição, por parte de um deputado. Ele não concordava que o museu precisasse ser ampliado e procurou motivos para que a gente fechasse. Ele acusou, de maneira injusta, a organização social de não ter competência para gerir o aparelho. Isso correu na Justiça e conseguimos provar que não fazia o menor sentido as acusações, que elas não tinham fundamento e não passavam de uma perseguição às pautas que o museu trata. Foi um momento triste e em que tivemos que resistir mais uma vez”, contou Val Chagas.

O Museu da Diversidade Sexual é o primeiro museu na América Latina a tratar temática de sexualidade e gênero. “A sociedade ainda tem muitos tabus no que tange essa pauta. E o museu, enquanto esse lugar de educação e pesquisa, precisa estar aberto e funcionando para que as pessoas quebrem esses tabus e preconceitos em relação à diversidade de existências e de identidades”, disse Val.

Bloco de Carnaval

Além da caminhada pelo centro, o Museu da Diversidade Sexual também promove hoje um bloco carnavalesco, chamado Será que É, com saída marcada às 13h na Rua Augusta, 1.300. “O bloco já acontece há vários anos aqui do museu e vem crescendo cada vez mais”, disse Val Chagas.

Esse é um dos 181 blocos que devem desfilar na capital paulista entre hoje e amanhã, durante o pré-Carnaval. A expectativa da prefeitura paulistana é que o Carnaval de rua, entre o pré e o pós Carnaval, atraia 15 milhões de foliões neste ano em São Paulo.



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