Coordenados pela Fundação Araucária, instituição vinculada à Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), os Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação (Napis) são uma iniciativa para gerar soluções para os desafios da atualidade. O Napi Emergência Climática ganha ainda mais relevância ao reunir pesquisadores de nove universidades, que avaliam a maneira como as mudanças no clima alteram a frequência e a intensidade de queimadas em diferentes regiões, assim como o efeito das crises climáticas na biodiversidade.

O articulador do Napi Emergências Climáticas, professor Francisco de Assis Mendonça, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que, frequentemente associadas à atividade produtiva da agricultura, as queimadas no Paraná não são um fenômeno novo, mas a frequência e intensidade aumentaram consideravelmente.

Geralmente, os produtores utilizam o fogo para limpar os terrenos e preparar a terra para novas culturas, uma técnica conhecida como queima controlada. Muitas vezes preferida pelos agricultores em razão do custo reduzido, essa prática causa impactos ambientais, o que tem gerado um sinal de alerta entre os ambientalistas e especialistas em mudanças climáticas.

De acordo com ele, as queimadas ocorrem principalmente no inverno, entre abril e outubro, com mais intensidade entre julho e setembro devido à baixa umidade. Ele pontua que as mudanças climáticas têm agravado a situação, resultando em um inverno mais quente e seco.

“Estamos vendo um aumento das queimadas, que agora liberam grandes quantidades de gases e fumaça, intensificando a emergência climática”, afirma o docente. “As condições atuais estão provocando sérios danos ambientais e afetando diversas regiões do Brasil e países vizinhos”, destacou.

CENÁRIOS – A equipe de pesquisadores do Napi Emergência Climática concluiu a fase de diagnóstico dos efeitos das mudanças climáticas no Paraná e projetou cenários com base em diferentes níveis de emissão de gases de efeito estufa. Os resultados indicam que o Estado tende a enfrentar um aumento significativo nas temperaturas máximas, com chuvas mais intensas e secas mais severas.

Para a geógrafa Leila Limberger, professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), a seca que afeta a região Central do Brasil está relacionada a um aquecimento incomum da superfície do Oceano Atlântico, ao Norte da linha do Equador.

“Desde 2020, o oceano tem registrado temperaturas acima da média, acumulando um calor que afeta a atmosfera e os padrões de circulação de massas de ar, o que reduz a umidade e contribui para a intensificação de queimadas, que, embora naturais, são agravadas por ações humanas”, explica Leila.

Os especialistas recomendam práticas agrícolas sustentáveis para mitigar os impactos das queimadas, como a técnica do plantio direto, que preserva a estrutura do terreno sem a necessidade de preparo do solo. Já o uso de biomassa é uma alternativa que utiliza resíduos vegetais para a compostagem em vez de o produtor recorrer ao fogo para a limpeza das áreas agrícolas. E a agricultura de precisão otimiza os recursos com tecnologias avançadas.

RECUPERAÇÃO – Segundo o professor José Marcelo Domingues Torezan, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), a intensidade do fogo influencia a velocidade da recuperação das áreas queimadas.

“Condições atmosféricas extremas, como temperaturas acima de 30 graus Celsius, umidade abaixo de 30% e ventos fortes, são fatores críticos que podem provocar incêndios catastróficos, sendo necessária uma vigilância intensa e a restrição de práticas como queimadas de limpeza em períodos críticos”, explica o docente. “Florestas queimadas podem se recuperar naturalmente, desde que o incêndio seja controlado”.

No Paraná, áreas de vegetação nativa, como a Mata Atlântica, são particularmente vulneráveis, e o fogo pode dificultar a migração e a reprodução de animais, aumentando o risco de extinção de espécies.

Os pesquisadores paranaenses destacam que a recuperação de áreas queimadas depende da intensidade do fogo e da presença de vegetação remanescente e o processo de restauração pode ser lento e exigir um monitoramento contínuo e intervenções, como o controle de espécies invasoras e plantio de mudas nativas.

FORÇA-TAREFA – O Estado passa por uma semana crítica para o alto risco de incêndios ambientais. De acordo com o Simepar, até o dia 15 de setembro, o Paraná deve registrar baixos níveis de umidade do ar e altas temperaturas, acima da média para o período. Com este cenário, o risco de queimadas aumenta consideravelmente.

Por isso, no início do mês, foi decretado estado de emergência por estiagem em todo o Estado. Entre algumas medidas para enfrentar a situação estão o aporte de R$ 24 milhões para ações de combate a incêndios florestais no Paraná. A força-tarefa prevê a contratação de aeronaves especializadas para combate às chamas, formação de brigadistas, compra de equipamentos (abafadores, mochilas costal e sopradores, por exemplo) e contratação de caminhões-pipa para auxiliar no combate a incêndios.

Além disso, o Instituto Água e Terra (IAT) suspendeu, pelo período de 90 dias, qualquer queima controlada para atividades agrossilvopastoris no Paraná, incluindo o método usado para a despalha de cana-de-açúcar.

O Governo do Paraná também liberou um fundo de R$ 5 milhões para atender municípios em situação de emergência por causa da estiagem.



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