A cerveja paranaense está em alta, atestando que os investimentos e apoios do Estado ao setor têm dado frutos. A prova mais recente desse sucesso veio de Indianápolis, nos Estados Unidos, onde foi disputada a World Beer Cup, espécie de Olimpíada das cervejas. Nessa competição acirrada, com candidatas de diversos países, duas representantes de Foz do Iguaçu voltaram para casa com a medalha de ouro. Ambas são da cervejaria 277 Craft Beer.
A escura e intensa Quadrupel 277, com aroma de tâmaras e ameixas, superou 37 concorrentes para vencer na categoria Belgian-Style Strong Specialty Ale. Já a Canoa Quebrada, que tem na composição a brasilidade do Caju, deixou para trás 45 adversárias para levantar o troféu na categoria Gose, para bebidas de estilo alemão – coloração clara, leve acidez e um toque salgado.
A 277 Craft Beer, que já tinha nas prateleiras mais de 50 medalhas nacionais e sul-americanas, agora conquistou o mundo. “Estamos orgulhosos. Mas a ideia da participação nos concursos não é a medalha pela medalha. Ele vale para nós como uma baliza, para sabermos o que estamos produzindo e não fazermos uma cerveja que só a gente gosta”, comentou Agenor Maccari, proprietário da marca.
“Fazemos cerveja para o mercado, então é uma forma de vermos como estamos nas receitas, na nossa qualidade de processo. Termos uma cerveja entre as melhores do mundo é um feedback fantástico”, acrescentou ele, lembrando ainda que o nome de Foz do Iguaçu e do Paraná também saem ganhando com o destaque internacional.
A presença no topo do pódio, aliás, começa a se tornar rotina para os representantes paranaenses. Em março, por exemplo, no 13º Concurso Brasileiro de Cervejas, em Blumenau, o principal prêmio ficou com a cerveja Orvalho do Mar, da maringaense Cervejaria Araucária. Bebida de estilo Gose, com incremento de limão-rosa e alecrim na receita, ela foi considerada a melhor na disputa geral, batendo outras 94 opções que haviam vencido em suas respectivas categorias.
Na mesma competição, no ano anterior, em 2023, a Sabores do Malte, também da Cidade-Canção, tinha sido eleita como a melhor cervejaria do ano.
ESTADO CERVEJEIRO – Segundo dados da Associação das Microcervejarias do Paraná (Procerva), desde 2019 o Estado já conquistou mais de 240 medalhas e premiações no Festival Brasileiro da Cerveja – o maior do ramo no País, graças aos muitos rótulos artesanais de qualidade.
“Isso demonstra o quanto somos expoentes no mercado cervejeiro nacional e internacional. Vai ao encontro do nosso propósito enquanto associação: transformar o Paraná no Estado cervejeiro. Assim como Minas é da cachaça e o Rio Grande do Sul é do vinho, nós temos buscado esse espaço com apoio do Governo do Estado, que entende a importância desse recorte, inclusive, no turismo”, ressaltou Everton Delfino, presidente da Procerva.
No país do futebol, não há propaganda melhor para estimular a curiosidade de quem ama uma boa cerveja que uma coleção de títulos. Esse interesse gera impacto direto na economia de um modo amplo. “O turismo gastronômico do Paraná é muito rico e esse reconhecimento das cervejas estaduais enriquece o turismo do nosso Estado, pois os viajantes podem degustar algo muito gostoso no seu lazer. E o melhor: produzido aqui”, destacou o secretário estadual do turismo, Leonaldo Paranhos.
O impulsionamento do setor cervejeiro tem sido uma das apostas do Governo do Paraná – de 2020 a 2024, a indústria cervejeira investiu R$ 5 bilhões no Paraná. No ano passado, por exemplo, com apoio do programa de incentivos Paraná Competitivo, foi inaugurada a Maltaria Campos Gerais, com capacidade para produzir 280 mil toneladas de malte por ano.
Um reforço importante para reduzir custos, uma vez que o Brasil não é autossuficiente no produto, precisando importar boa parte do que é utilizado nas fábricas cervejeiras. Uma nova maltaria para maltes especiais também está sendo construída em Guarapuava.
Além disso, o Paraná, que já é o líder de produção de malte e cevada no território nacional, prevê um ano especial. “A cultura da cevada voltou a ganhar espaço. A área projetada para essa safra já está sendo semeada e é de 94,6 mil hectares, a maior dedicada à cultura na história do Estado”, apontou o agrônomo do Departamento de Economia Rural da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (DERAL/SEAB), Carlos Hugo Godinho.
“Isso reforça ainda mais a importância do Estado no cenário nacional. A produção pode ser até 40% maior, se as condições de clima permitirem, e superar as 296 mil toneladas que produzimos no ano passado, chegando a 413 mil toneladas neste ano”, complementou.
“A confirmação de uma produção maior e de boa qualidade vai ser fundamental para a gente diminuir a necessidade de importação”, concluiu Godinho, lembrando que o Estado teve de importar 200 mil toneladas de cevada no primeiro trimestre.
O Paraná é, assim, protagonista no setor, tendo destaque em toda a cadeia produtiva, o que beneficia empresas locais, mas também alcança os territórios vizinhos. A estimativa é que em cada 20 garrafas de cerveja no país, sete tenham ingredientes paranaenses.
De acordo com a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), em 2024 o Paraná se firmou como uma das unidades da Federação com maior número de empresas do ramo, com mais de 170 cervejarias registradas e uma produção estimada em 7,8 milhões de litros por ano.
“Além do grande número de cervejarias, o movimento cervejeiro no Paraná tem uma boa dose de associativismo, de cooperação. As cervejarias se unem para eventos, tanto festivais para servir a cerveja quanto festivais técnicos, com seminários, palestras. As cervejarias estão procurando erguer a nota técnica, o conhecimento do processo”, opinou Agenor Maccari, ao avaliar o crescimento desse mercado no Paraná. E ele complementou.
“Também é uma felicidade ter uma fábrica de malte gigante no Paraná, de destaque nacional, de ter o fermento em Curitiba. Então, tem uma boa questão logística, somada à questão da capacitação, da qualificação técnica dos cervejeiros e das empresas”, acrescentou. Outros ingredientes usados nas mais de 30 receitas da 277 Craft Beer, como morangos, por exemplo, são majoritariamente provenientes do Estado.
ROTAS – A produção não é a única frente em que o Estado trabalha para desenvolver esse mercado ainda mais. Em Curitiba, uma Rota Cervejeira foi lançada em 2024 pela Associação das Microcervejarias do Paraná (Procerva), com apoio do Governo do Estado, por meio da Secretaria do Turismo (Setu-PR) e do Viaje Paraná. A ideia é oferecer uma opção para que o consumidor possa conhecer mais da cultura que envolve a produção e degustação da bebida.
O tour passa por 17 bairros e conta em seu itinerário com mais de 20 pubs, bares e empreendimentos. O roteiro conecta turistas, apreciadores e profissionais à cena curitibana das produtoras artesanais, dando destaque às microcervejarias.
Esse tipo de turismo também está presente na Região Metropolitana (RMC). Em Pinhais, é possível visitar a Rota da Cerveja Artesanal, que conta atualmente com sete empreendimentos em seu itinerário. O roteiro é outra boa opção para os turistas, que podem conhecer um município de fácil acesso, localizado a aproximadamente 10 km de carro do Centro de Curitiba e a 18 km do Aeroporto Internacional Afonso Pena, na vizinha São José dos Pinhais.
Nos Campos Gerais, a Heineken – uma das maiores marcas de cerveja do mundo – inaugurou em 2024 um tour envolvendo sua produção no Estado. O passeio dura cerca de duas horas e só pode ser feito em dois municípios brasileiros: em Jacareí (SP) e em Ponta Grossa. Com a inauguração da experiência “Inside the Star”, a cervejaria estadual passou a oferecer uma visitação, focada na produção das bebidas maltadas.
Cada cervejaria artesanal é, em si mesma, uma atração em potencial. “Quando a gente fala em turismo, tratamos de experiências. É a experiência que você tem de curtir o que está ali. É o nosso conceito. Por isso, temos um bar cervejeiro na fábrica, em que a bebida está sendo feita atrás de uma parede de vidro. Então, você está bebendo ‘o’ local, bebendo Foz do Iguaçu”, fechou Maccari.