A queijaria Vidalat, em Francisco Beltrão, no Sudoeste do Paraná, é a primeira do Estado a receber certificação “carbono neutro”. O selo, emitido em junho pela Associação Brasileira de Rastreabilidade de Alimentos (Abrarastro), indica que a agroindústria conseguiu compensar a emissão de carbono adotando práticas agrícolas sustentáveis. Assim, seus produtos são considerados neutros em carbono. É o primeiro queijo tipo colonial do Brasil a receber esse tipo de certificação junto à Abrarastro.

A família tem mais de 40 anos de tradição no setor, e produz dois tipos de queijo artesanal: o colonial tradicional e o colonial temperado ao vinho, ambos premiados em concursos. O selo colabora para agregar ainda mais valor aos produtos, considerando a redução do impacto ambiental.

A certificação foi concedida após uma avaliação de itens como a destinação adequada de dejetos, preservação de nascentes, uso de energia renovável, reflorestamento com árvores nativas, pastagem e integração lavoura-pecuária.

“É um conjunto de ações. A sustentabilidade e a questão dos créditos de carbono estão em alta, e tivemos a grata satisfação de a propriedade ser positiva em créditos de carbono. A partir da certificação, buscamos transferir os créditos para a queijaria”, explica a produtora Roseli Piekas Capra.

De acordo com ela, as mudanças na produção da matéria-prima vêm sendo implantadas há muito tempo, mas o selo chega como mais um diferencial para abrir mercado, além de colaborar com o meio ambiente. “A produção e o trabalho com animais são vistos como algo que só polui, e não é bem assim. A gente pode ter um produto sem agredir o meio ambiente, com práticas que venham a ajudar na sustentabilidade”.

PROCESSO – O cálculo da emissão de carbono considera indicadores como a energia consumida, a geração de resíduos e sistemas integrativos. Também é necessário manter o Cadastro Ambiental Rural (CAR) em dia.

A Vidalat fez parte de um projeto-piloto da Cresol e passou pela avaliação da Abrarastro. Segundo o presidente-executivo da Associação, Fernando Baccarin, os produtos oriundos de uma agroindústria que detém esse tipo de selo são considerados neutros em carbono.

“Para isso, é necessário que o laticínio passe por uma certificação anual onde vamos mensurar a quantidade de carbono voluntário que deve ser comprada para neutralizar as emissões”, explica. De acordo com ele, atualmente mais de 150 agroindústrias no Paraná estão na fila para a certificação.

Os dados coletados são analisados junto aos laudos do banco de carbono. A Abrarastro calcula a emissão de gases emitidos na produção e como é possível neutralizar o processo. Também acontece uma visita para inspeção. No caso da Vidalat, as embalagens foram trocadas por outras mais sustentáveis.

“Caso alguma indústria não tenha áreas certificadas, pode comprar créditos de outras propriedades, ou usinas fotovoltaicas, ou a partir do biogás, ou de florestas”, completa Baccarin.

BOAS PRÁTICAS – Esse tipo de iniciativa está dentro das recomendações do Plano Estadual para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (Plano ABC+ Paraná), coordenado pelo Sistema Estadual de Agricultura.

Além do selo, as práticas implantadas na Vidalat se enquadram na lista de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), recomendações que os países devem seguir até 2030, como a sustentabilidade na agricultura.

PARCERIA – De acordo com a produtora, o trabalho de melhoria nas práticas agrícolas e ambientais e fortalecimento da comercialização da queijaria conta com apoio de diversos parceiros, como Associação dos Produtores de Queijo Artesanal do Sudoeste do Paraná (Aprosud), o Sebrae, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e da equipe do Sistema Estadual da Agricultura.

Em 2020, a Vitalat esteve entre as primeiras agroindústrias a receber a certificação do Susaf/PR (Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte), concedida pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), que permite a comercialização do produto em todo o território paranaense.

“Utilizamos leite aqui da propriedade, tem todo um controle sanitário dos animais, a propriedade é livre de brucelose e tuberculose, então o queijo, além de todos os diferenciais, está com essa pegada ambiental”, completa a produtora.

A família também recebe assistência do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná Iapar-Emater (IDR-Paraná) e está na Rota do Queijo Paranaense. Toda a equipe do Sistema colabora nas orientações para as boas práticas agropecuárias.

“As agroindústrias em si emitem carbono, mas as propriedades podem adotar práticas para neutralizar essas emissões. Esse é mais um selo que agrega valor e atende a um nicho de mercado que busca consumir um produto ecologicamente correto”, explica a chefe do núcleo regional da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) em Francisco Beltrão, Denise Adamchuk.

DESTAQUE – Referência na produção de queijos premiados, a região Sudoeste é uma das principais bacias leiteiras do Paraná. Somadas, as regiões de Pato Branco, Francisco Beltrão e Dois Vizinhos representam 25% da produção estadual, com 1,09 bilhão de litros de leite produzidos ao ano e Valor Bruto da Produção de R$ 2,82 bilhões em 2022.



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