Uma tecnologia utilizada em um protótipo que simula o sistema circulatório deve otimizar treinamentos e capacitações práticas, não invasivas, de profissionais da saúde que atuam com pacientes em hemodiálise ou terapia renal substitutiva. O simulador inteligente para hemodiálise foi criado pela técnica em Enfermagem e estudante do curso de Enfermagem Renata Candido, da Faculdade Anhanguera, em Rolândia, no Norte do Estado. Ao participar do Programa Centelha, da Fundação Araucária, ela entendeu que sua ideia poderia se transformar em um produto e viabilizar a abertura de sua própria startup.

Por meio do Centelha, Renata conseguiu apoio técnico para levar sua ideia adiante e recursos financeiros para desenvolver os protótipos. “O apoio que tive do Centelha foi em um momento ímpar do desenvolvimento do equipamento, pois eu não tinha recursos financeiros para levar a ideia adiante e sequer entendia que tinha uma empresa nas mãos”, conta.

Mesmo com anos de experiência na enfermagem, Renata sentiu na pele as dificuldades de aprender uma nova função na sala de hemodiálise cheia de pacientes. “Trabalhar com o paciente renal crônico é uma especialidade que não se aprende nos cursos técnicos ou de graduação de enfermagem. É no dia a dia, com o paciente e com uma máquina que eu nunca tinha visto antes”, diz.

“Eu me perguntei como é que esse paciente se sente ao ver uma profissional que vai cuidar da vida dele treinando ali, sem conhecimento ainda. Foi então que tive a inspiração de criar um simulador, que inicialmente era um mecanismo instalado dentro de um manequim de loja e que evoluiu para um simulador com mecanismo de circulação que funciona na máquina de hemodiálise”, explica Renata, que é proprietária da startup ISHÁ Simuladores.

Como a máquina de hemodiálise é feita para reconhecer o ser humano, o simulador tem toda a programação de fluxos e batimentos cardíacos programados para ser reconhecido pela máquina. Por meio da embarcação de sensores e tecnologia estrutural, o equipamento promove a simulação e a reprodução concreta e fidedigna de um sistema circulatório (sanguíneo).

“O simulador cria um ambiente que dá segurança ao paciente. Melhoria da retenção de conhecimento, com redução de falhas técnicas, além de possibilitar a visualização na prática da instalação, cuidados pré e pós-tratamento”, ressalta Renata Candido.

“A Fundação Araucária reforça o seu compromisso com a sociedade ao apoiar, por meio do Programa Centelha, startups como a ISHÁ, que oferece uma inovação que impacta em benefícios para profissionais de saúde e pacientes em hemodiálise, sem dúvida um importante investimento”, afirma a gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Araucária, Fátima Padoan.

DIFICULDADES – Há 18 anos fazendo hemodiálise, o motorista aposentado Eduardo Araújo Reis já presenciou muitas situações com profissionais inexperientes. “Quando comecei a fazer hemodiálise fui atendido por um profissional sem nenhuma experiência que errou sete vezes ao tentar fazer o acesso na fístula arteriovenosa. Fiquei com sete agulhas no braço por ser um momento de aprendizagem do profissional, até chegar um enfermeiro mais experiente e conseguir furar direitinho para fazer a hemodiálise”, relata Eduardo.

Ele já viu várias vezes o simulador em atividade e afirma que, com a possibilidade de capacitação antes de chegar ao paciente, o doente renal terá um melhor atendimento. “Este simulador vai agregar muito para a capacitação das enfermeiras antes de chegar no paciente, que não terá medo de ter seu tratamento prejudicado por uma pessoa sem experiência. Porque uma fístula, dependendo da maneira que fura você, pode até perdê-la”, observa o aposentado.

O simulador já foi patenteado e sete protótipos já estão sendo usados em treinamentos. A startup busca parcerias para viabilizar a produção para a sua comercialização.

QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL – A idealizadora do simulador lembra que o paciente necessita da hemodiálise quando o rim para de funcionar. Precisa do tratamento por cerca de quatro horas, três vezes por semana, e ser atendido por um profissional bem preparado. “Se a enfermeira ou enfermeiro não estiver apto a hemodiálise pode não ter a qualidade que deveria. Todas as vezes que a máquina é parada para treinar alguém, o paciente é prejudicado. É tirado dele o direito de fazer o tratamento com segurança e respeito”, argumenta Renata Candido.

Segundo ela, o uso do simulador também reduz o tempo de treinamento dos profissionais que, pelo modo observação, pode levar de três a seis meses. Com o equipamento este tempo reduz para cerca de 15 dias. “Ele pode errar, tirar dúvidas, acessar todos os mecanismos da máquina e, consequentemente, vai ter menos tempo ocioso, menos desperdício e maior produtividade por ser um profissional mais treinado”, enfatiza Renata.

Quando conheceu o simulador, a cirurgiã vascular Mariana Gibin ficou impressionada devido ao avanço de qualidade técnica na diálise, que segundo ela será possível a partir do projeto que considera inovador. “Há uma dificuldade técnica muito grande porque as pulsões inadequadas podem trazer um prejuízo muito significativo e uma vida útil menor dos acessos vasculares, que são determinantes até para a expectativa de vida do paciente. É um projeto incrível e inovador que eu recomendo para todos os profissionais”, destaca a médica.

Para a médica Renata Aguilhera Aguiar, que participou do treinamento com o simulador inteligente, trata-se de uma oportunidade de ter acesso a conteúdos que ela não teve durante sua formação. “Resolvi fazer o treinamento para aprender mais sobre um conteúdo que eu não tive acesso na faculdade e nem depois de formada. Superou minhas expectativas. Estamos tendo acesso a um protótipo que é algo inédito, uma oportunidade única”, afirma.

Outros simuladores estão em desenvolvimento e devem facilitar o trabalho dos profissionais da área da saúde. “Nós já desenvolvemos um protótipo de cachorro, então já entramos no mercado veterinário porque houve uma demanda muito grande”, disse a Renata Candido.

PRÊMIO – Em outubro, o projeto foi finalista no Concurso de Startups Femininas do BRICS, grupo de países de mercado emergente em relação ao seu desenvolvimento econômico, que contou com a participação de cerca de mil mulheres de 28 países.

CENTELHA – O Programa Centelha oferece capacitações, recursos financeiros e suporte para transformar ideias em negócios de sucesso. A iniciativa contou com o investimento da Fundação Araucária e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) de R$ 4,6 milhões em suas duas edições. O número de empresas apoiadas deve passar de 70, com o valor de até R$ 60 mil por projeto.



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