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Sua última chance de assistir na Netflix a um dos filmes mais brutais e impactantes da história do cinema


O mal assume formas as mais diversas nas sociedades ao redor de todo o planeta, e a produção e o consumo ilegais de entorpecentes é, inegavelmente, uma das mais conhecidas, seja na vizinhança barulhenta do subúrbio pobre de uma megalópole qualquer ou estendendo seus tentáculos sobre vilarejos perdidos nos rincões de países ricos e pobres, onde seduz as populações mais vulneráveis com suas falsas promessas de ganhos vultosos e aparentemente fáceis, sobretudo homens jovens e de escolaridade limitada, quase sempre negros. Cenário perfeito para a eclosão de episódios de violência, em que gangues enfrentam a polícia de igual para igual, contando com o aparato bélico que conseguem mediante o tráfico de armas — para não mencionar a guerra sem fim de facções que se digladiam entre si pelo domínio de bocas de fumo assombrosamente rentáveis —, a compra e venda de drogas alimenta um mercado que movimenta cerca de 900 bilhões de dólares ao ano em todo o mundo, o correspondente a 1,5% do PIB mundial ou um terço de tudo o que o Brasil produz ao longo de doze meses.

É impossível dissociar violência e tráfico, e nesse particular “Sicario: Terra de Ninguém” (2015) é uma boa contribuição do cinema ao debate sobre a onipresença e a onipotência do tráfico. Já no prólogo, o filme de Denis Villeneuve, um dos realizadores mais sofisticados da indústria cinematográfica do nosso tempo, deixa claro que não tem a menor intenção de pegar leve. O roteiro de Taylor Sheridan faz menção a uma casa sob cujas paredes se escondem mais de três dezenas de cadáveres, todos de pessoas envolvidas em alguma proporção com os descaminhos de modalidades de delinquência relacionadas ao tráfico de drogas — clientes que nunca pagavam suas dívidas, traficantes que se deixavam apanhar fácil demais e, claro, policiais que não condescendiam com o crime. Villeneuve registra essa passagem com o brilhantismo de praxe, sugerindo que essa é uma guerra pouco afetas a qualquer protocolo de conduta, tampouco pruridos morais na gestão do negócio. Figurões de outras quadrilhas estão no topo da lista, seguidos de perto pelos traidores, o que mostra que fidelidade é um valor dos mais caros no ramo.

Sicários, os zelotes matadores de romanos que invadiam a Judeia no ano 6 a.C., deram lugar aos assassinos de aluguel do México de hoje. É contra eles que a agente do FBI Kate Macy luta, e na sequência de abertura Emily Blunt se mostra hábil o bastante para encabeçar a história, à primeira vista só mais uma produção do cinema macho, caso também de “A Hora Mais Escura” (2012), de Kathryn Bigelow. O desempenho de Macy na missão lhe garante o prestígio com que todo policial sonha e ela é chamada a tomar parte na força-tarefa que visa a capturar um traficante de drogas em algum lugar no território americano mais próximo ao país vizinho e fazê-lo responder a um interrogatório nos Estados Unidos. Cercada por dois homens misteriosos, Matt, vivido por Josh Brolin, e Alejandro, personagem de Benicio Del Toro, ela começa a acreditar que há alguma coisa de muito suspeita com seus colegas à medida que a operação fracassa em cada detalhe.

O diretor mantém a narrativa nesse fio tênue de suspense e ação, preferindo se concentrar no que acontece a partir dessa elucubração de sua protagonista, que pode ser só paranoia, e deixando algo solta sua composição. Não se consegue o que exatamente cada um desses tipos representa na trama até a grande reviravolta. Mais um sinal de que em Villeneuve nada é óbvio.


Filme: Sicario: Terra de Ninguém
Direção: Denis Villeneuve
Ano: 2015
Gêneros: Suspense/Crime
Nota: 10/10



Via R7.com

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